Imagem de Goya
Há algum tempo Maria se dedicava a buscar nas coisas que escrevia o que sentia de verdade. Precisava mergulhar em si própria para distinguir o que era real e o que era ficção. Não podia se enganar, pois se sentia como uma juíza pronta para julgar, absolver ou condenar. Na busca de si mesma compreendeu que era fácil lhe dar absolvição, que era possível ser generosa consigo mesma e encontrar explicações para tudo que fosse insensato, impensado, incoerente e todos os outros ins possíveis.
Foi assim, como uma fetichista de si mesma, que ela passou a espreitar a vida e as inúmeras personagens que representava. Interessava-se pelo seu mundo, seus sentimentos, suas analogias, as histórias que contava. Maria não queria perder de vista a generosidade com que aceitava a si mesma e nem os motivos que a levaram àquela investigação projetiva. A aventura em sua alma, especialmente naquele instante, era como uma volta na montanha-russa, nunca viu tanto altos e baixos. Lembrou-se da primeira - e única - vez que havia subido em uma montanha-russa. Maria sentiu como se lhe faltasse o chão. Aliás, o chão já lhe faltava, mas sentiu sumir toda a segurança que a havia encorajado a uma experiência que não lhe era essencial. As intermináveis voltas, as subidas e descidas, os solavancos não a divertiam. Estava emocionalmente arrasada e fisicamente enjoada. Quando, finalmente, terminou o passeio macabro, Maria pôde colocar para fora tudo aquilo que sentiu e, sem se importar se seria papelão ou não, vomitou ali mesmo, no meio do parque e na frente de todo mundo.
Conhecer-se, no entanto, não é uma escolha, como é uma aventura na montanha-russa. É uma experiência essencial e de leitura difícil, que se faz acompanhar pelas próprias angústias, pela sua humanidade e sua crueldade. Quanto mais hermética tentava ser, mais transparente se tornava. Estava nauseada. Poderia até fazer um comparativo com a obra de Sartre, mas não era literatura ou filosofia que ela procurava entender. Queria a sua intimidade, mais próxima do conceito de amor-próprio defendido por Kant. Maria quer justificar o que lhe parece ser fora dos padrões, julgar a si mesma sem nenhuma generosidade, como seria julgada se ela estivesse no lugar da outra. A doutrina moral de Kant toma o amor-próprio como único princípio material da razão prática.O ideal de felicidade, como satisfação completa de todas as inclinações, deve reivindicar que é possível ser feliz sob condições empíricas. A situação imaginada é, porém, inconcebível, sem a suposição das circunstâncias externas. Por enquanto, nenhuma conclusão. O estado de ser feliz permanece indefinido na sua definição de felicidade. O tempo vivido a deixa à mercê dos sentimentos.
Maria está feliz. João também!
Seus últimos posts me reportam a um outro já publicado aqui com trechos de Menotti Del Picchia no sentido de colocar para fora tudo que sufoca, antes de ter que se calar. Que essa felicidade seja permanente. Não sei pra quê, mas estou na torcida! Beijos!
ResponderExcluirAgora acho que gosto do João também!
ResponderExcluir"Se pressentires que amanhã estarás mudo, esgota, como um pássaro, as canções que tens na garganta". É este p texto, não? Seria João meu eco e reflexo? O amor irrealizado pode ser sublimado, universalizado. Transforma-se em mais amor. Resiste à mesmice dos dias. Nossa colega Cida Almeida chamou-me a atenção para a linearidade de Maria. Personagem com vida própria. Continue torcendo querida!
ResponderExcluirEste João é adorável!! Faz bem em gostar dele, Rô. Aos poucos vou dando forma palpável ao meu personagem masculino. Beijos e bom chorinho pra vc!
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