sexta-feira, 22 de julho de 2016

E o Futuro? Como Será?



















Às  vezes a gente fica apavorada com o que pode vir, claro! Mas esse não será o mundo que viverei, é o mundo de meus filhos, netos e toda minha descendência. E será melhor, com certeza será melhor. Nesse texto que reproduzo fala das oportunidades de negócio e empregos, mas tenho certeza que com tantas mudanças essenciais essa relação também se alterará. Vamos ao texto:

Caso V. não tenha percebido: A 4ª. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ESTÁ EM CURSO. Udo Gollub em Messe Berlin- (Conferência da Universidade da Singularidade)

Em 1998, a Kodak tinha 170.000 funcionários e vendeu 85% de todo o papel fotográfico vendido no mundo. No curso de poucos anos, o modelo de negócios dela desapareceu e eles abriram falência. O que aconteceu com a Kodak vai acontecer com um monte de indústrias nos próximos 10 anos – e a maioria das pessoas não enxerga isso chegando. Você poderia imaginar em 1998 que 3 anos mais tarde você nunca mais iria registrar fotos em filme de papel? No entanto, as câmeras digitais foram inventadas em 1975. As primeiras só tinham 10.000 pixels, mas seguiram a Lei de Moore. Assim como acontece com todas as tecnologias exponenciais, elas foram decepcionantes durante um longo tempo, até se tornarem imensamente superiores e dominantes em uns poucos anos. O mesmo acontecerá agora com a inteligência artificial, saúde, veículos autônomos e elétricos, com a educação, impressão em 3D, agricultura e empregos.

Bem-vindo à 4ª Revolução Industrial

O software irá destroçar a maioria das atividades tradicionais nos próximos 5-10 anos.
O UBER é apenas uma ferramenta de software, eles não são proprietários de carros e são agora a maior companhia de táxis do mundo. A AIRBNB é a maior companhia hoteleira do mundo, embora eles não sejam proprietários. Inteligência Artificial: Computadores estão se tornando exponencialmente melhores no entendimento do mundo. Neste ano, um computador derrotou o melhor jogador de GO do mundo, 10 anos antes do previsto. Nos Estados Unidos, advogados jovens já não conseguem empregos. Com o WATSON, da IBM, V. pode conseguir aconselhamento legal (por enquanto em assuntos mais ou menos básicos) dentro de segundos, com 90% de exatidão se comparado com os 70% de exatidão quando feito por humanos. Por isso, se V. está estudando Direito, PARE imediatamente. Haverá 90% menos advogados no futuro, apenas especialistas permanecerão.
O WATSON já está ajudando enfermeiras a diagnosticar câncer, quatro vezes mais exatamente do que enfermeiras humanas. O FACEBOOK incorpora agora um software de reconhecimento de padrões que pode reconhecer faces melhor que os humanos.
Em 2030, os computadores se tornarão mais inteligentes que os humanos.

Veículos autônomos: em 2018 os primeiros veículos dirigidos automaticamente aparecerão ao público. Ao redor de 2020, a indústria automobilística completa começará a ser demolida. Você não desejará mais possuir um automóvel. Nossos filhos jamais necessitarão de uma carteira de habilitação ou serão donos de um carro. Isso mudará as cidades, pois necessitaremos 90-95 % menos carros para isso. Poderemos transformar áreas de estacionamento em parques. Cerca de 1.200.000 pessoas morrem a cada ano em acidentes automobilísticos em todo o mundo. Temos agora um acidente a cada 100.000 km, mas com veículos auto-dirigidos isto cairá para um acidente a cada 10.000.000 de km. Isso salvar&aacut e; mais de 1.000.000 de vidas a cada ano. A maioria das empresas de carros poderão falir. Companhias tradicionais de carros adotam a tática evolucionária e constroem carros melhores, enquanto as companhias tecnológicas (Tesla, Apple, Google adotarão a tática revolucionária e construirão um computador sobre rodas. Eu falei com um monte de engenheiros da Volkswagen e da Audi: eles estão completamente aterrorizados com a TESLA. 

Companhias seguradoras terão problemas enormes porque, sem acidentes, o seguro se tornará 100 vezes mais barato. O modelo dos negócios de seguros de automóveis deles desaparecerá. Os negócios imobiliários mudarão. Pelo fato de poderem trabalhar enquanto se deslocam, as pessoas vão se mudar para mais longe para viver em uma vizinhança mais bonita. Carros elétricos se tornarão dominantes até 2020. As cidades serão menos ruidosas porque todos os carros rodarão eletricamente.

A eletricidade se tornará incrivelmente barata e limpa: a energia solar tem estado em uma curva exponencial por 30 anos, mas somente agora V. pode sentir o impacto. No ano passado, foram montadas mais instalações solares que fósseis. O preço da energia solar vai cair de tal forma que todas a s mineradoras de carvão cessarão atividades ao redor de 2025. Com eletricidade barata teremos água abundante e barata. A dessalinização agora consome apenas 2 quilowatts/hora por metro cúbico. Não temos escassez de água na maioria dos locais, temos apenas escassez de água potável. Imagine o que será possível se cada um tiver tanta água limpa quanto desejar, quase sem custo.

Saúde: O preço do Tricorder X será anunciado este ano. Teremos companhias que irão construir um aparelho médico (chamado Tricorder na série Star Trek) que trabalha com o seu telefone, fazendo o escaneamento da sua retina, testa a sua amostra de sangue e analisa a sua respiração (bafômetro). Ele então analisa 54 bio-marcadores que identificarão praticamente qualquer doença. Vai ser barato, de tal forma que em poucos anos cada pessoa deste planeta terá acesso a medicina de padrão mundial praticamente de graça.

Impressão 3D: o preço da impressora 3D mais barata caiu de US$ 18.000 para US$ 400 em 10 anos. Neste mesmo intervalo, tornou-se 100 vezes mais rápida. Todas as maiores fábricas de sapatos começaram a imprimir sapatos 3D. Peças de reposição para aviões já são impressas em 3D em aeroportos remotos. A Estação Espacial tem agora uma impressora 3D que elimina a necessidade de se ter um monte de peças de reposição como era necessário anteriormente. No final deste ano, os novos smartphones terão capacidade de escanear em 3D. Você poderá então escanear o seu pé e imprimir sapatos perfeitos em sua casa. Na China, já imprimiram em 3D todo um edifício completo de escritórios de 6 andares. Lá por 2027, 10% de tudo que for produzido será impresso em 3D.

Oportunidades de negócios: Se V. pensa em um nicho no qual gostaria de entrar, pergunte a si mesmo: “SERÁ QUE TEREMOS ISSO NO FUTURO?” e, se a resposta for SIM, como V. poderá fazer isso acontecer mais cedo? Se não funcionar com o seu telefone, ESQUEÇA a ideia. E qualquer ideia projetada para o sucesso no século 20 estará fadada a falhar no século 21.

Trabalho: 70-80% dos empregos desaparecerão nos próximos 20 anos. Haverá uma porção de novos empregos, mas não está claro se haverá suficientes empregos novos em tempo tão exíguo. 

Agricultura: haverá um robô agricultor de US$ 100,00 no futuro. Agricultores do 3º mundo poderão tornar-se gerentes das suas terras ao invés de trabalhar nelas todos os dias. A AEROPONIA necessitará de bem menos &aacu te;gua. A primeira vitela produzida “in vitro” já está disponível e vai se tornar mais barata que a vitela natural da vaca ao redor de 2018. Atualmente, cerca de 30% de todos as superfícies agriculturáveis são ocupados por vacas. Imagine se tais espaços deixarem se ser usados desta forma. Há muitas iniciativas atuais de trazer proteína de insetos em breve para o mercado. Eles fornecem mais proteína que a carne. Deverá ser rotulada de FONTE ALTERNATIVA DE PROTEÍNA. (porque muitas pessoas ainda rejeitam ideias de comer insetos). 

Existe um aplicativo chamado “moodies” (estados de humor) que já é capaz de dizer em que estado de humor você está. Até 2020 haverá aplicativos que podem saber se você está mentindo pelas suas expressões faciais. Imagine um debate político onde estiverem mostrando quando as pessoas estão dizendo a verdade e quando não estão.

O BITCOIN (dinheiro virtual) pode se tornar dominante este ano e poderá até mesmo tornar-se em moeda-reserva padrão. Longevidade: atualmente, a expectativa de vida aumenta uns 3 meses por ano. Há quatro anos, a expectativa de vida costumava ser de 79 anos e agora é de 80 anos. O aumento em si também está aumentando e ao redor de 2036, haverá um aumento de mais de um ano por ano. Assim possamos todos viver vidas longas, longas, possivelmente bem mais que 100 anos.

Educação: os smartphones mais baratos já estão custando US$ 10,00 na África e na Ásia. Até 2020, 70% de todos os humanos terão um smartphone. Isso significa que cada um tem o mesmo acesso à educação de classe mundial. Cada criança poderá usar a academia KHAN para tudo o que uma criança aprende na escola nos países de Primeiro Mundo.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Entrevista de Lula ao Libération


O ex-presidente brasileiro, o mais popular da história contemporânea do país, retorna para falar sobre a ameaça de impeachment Dilma Rousseff, a Petrobras ou os Jogos de agosto. Hoje com 70 anos, ele poderá ser candidato em 2018.

 Lula: "A política é a arte do impossível"

"Eu vou colocar meus óculos para me dar um ar de sociólogo ou um cientista político." Lula, o filho pobre que não terminou sua educação, em tom de ironia, oferece a outra face.  Afável e descontraído, o ex-presidente do Brasil (2003-2011) recebeu o Liberation  na sede  do instituto que leva seu nome, em São Paulo. Enquanto seu partido passa por crises, a sua protegido Dilma Rousseff está ameaçada de impeachment e a sua própria imagem é golpeada, que também envolve Lula, por seu carisma. (Algo como, o carisma de Lula ser o culpado por tudo que acontece)

Estamos em mês da abertura dos Jogos Olímpicos.
Quais são as suas expectativas?

Estou certo de que o Rio e o Brasil mais uma vez vai encantar os milhares de estrangeiros que vem, graças à receptividade de nosso povo e a qualidade do que foi construído para a competição. Nossos atletas estão muito motivados também. Eu cruzo meus dedos todos os dias para que não haja incidente.

Que tipo de incidente?

Segurança. Eu não acho que há ameaça terrorista no Brasil. É um país fraterno e pacífico. Mas quero a certeza de que todas as precauções sejam tomadas.

Em dois anos - e graças ao seu governo - o Brasil recebeu as duas competições principais, a Copa do Mundo de futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos. Qual foi o seu cálculo diplomático?

O Brasil deve agir como um grande país capaz de organizar tais eventos. Porque, podemos ter falhas, mas estas competições são uma oportunidade para fazer propaganda do país, embora os eventos também abram nossos olhos para os nossos problemas. Isso não deve nos assustar, não tente esconder o nosso pobre, removê-los da rua, como alguns [referindo-se à cidade de Rio que desalojou as favelas, oficialmente, para abrir caminho para obras olímpicas]. O governo não teve uma participação decisiva para trazer a Copa do mundo no Brasil. FIFA e a Confederação Brasileira de Futebol concordaram com ele. Foi a vez da América Latina para organizar [de acordo com o sistema de rotação Fifa]. Era importante que a Copa do Mundo voltasse para casa, que venceu cinco vezes e nunca tinha mais organizado desde 1950.

Para os Jogos Olímpicos, no entanto, o governo correu ...

Sim. O Brasil já tinha perdido três vezes [Brasil já tinha concorrido para os Jogos Olímpicos em 2000 e Rio para o 2004 e 2012]. Desta vez, ele tinha que vencer. Toda vez que ele via Celso Amorim [ministro das Relações Exteriores e eminência parda da política externa de Lula] falava. Eu mesmo queria falar pessoalmente com muitos líderes estrangeiros, especialmente da América Latina, da Ásia e África, pedindo-lhes para votar no Rio. Brasil vivia em 2009 uma história fase excepcional. Era uma espécie de tosse convulsa. Nossa economia estava crescendo, nós queríamos ser o sexto do mundo. O mundo começou a acreditar em nós. Mesmo assim, vencer cidades como Chicago, Madri e Tóquio não foi fácil. Alguns até disseram que seria impossível. A vitória de Rio estava em movimento, sem precedentes. Este foi um dos dias mais importantes da minha vida. Eu vi a cena em Copacabana, o povo chorar de alegria. Foi extraordinário.

Mas havia outras prioridades para um país ainda em desenvolvimento?

Isto significaria que os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo não poderiam ser conquistados nos Estados Unidos, a França ou a Alemanha! Agora sua roupa não pode ser exclusiva para os países ricos, que também deve fornecer assistência financeira aos países pobres para receber estes grandes eventos. Estes são uma oportunidade para desenvolver o país que vai receber os investimentos, para iniciar novos projetos. Ganhar os Jogos Olímpicos foi incrível para o Brasil, precisamente porque há mais a fazer. Fomos capazes de iniciar os investimentos que não teriam sido feitos de outra forma.

Que legado os Jogos Olímpicos vão deixar? 

Eles vão deixar um legado para o Rio extraordinário, infra-estrutura e legado esportivo e transporte. É importante não só pela competição, mas o património construído beneficia toda a população. O governo federal colocou um monte de dinheiro nas Olimpíadas. Portanto, há uma grande ingratidão por parte do prefeito do Rio, Eduardo Paes, no que diz respeito à presidente Dilma Rousseff, ele defende o impeachment.

O Brasil está passando por uma profunda crise, económica, social, política e moral. Como o seu partido está no poder durante os últimos treze anos, ele assume a responsabilidade?

A crise está em todos os lugares, o Brasil poderia ser poupado. Os Estados Unidos não têm a taxa de crescimento econômico esperado. China desacelera. Europa está em crise por causa da Brexit e refugiados. Ninguém quer receber os pobres. No entanto, é o que os países ricos fomentam,  guerras e fazer bombas. Estes países, que sempre defenderam o livre comércio, foram os primeiros em 2009 a colocar barreiras protecionistas quando a questão era a liberalização do comércio para lutar contra os efeitos da crise financeira. A crise no mundo também é de natureza moral, não apenas econômica ou política. No Brasil, há um processo de luta contra a corrupção [a chamada investigação "Lava Jato" ou "Expresso Wash" na gigante Petrobrás para o benefício de partidos políticos] que o nosso governo tem promovido. Para nós, os que mais investimos na formação e independência da Polícia Federal e na instância de controle CGU [Controladoria-Geral da União]; nós, somos os que sofremos com a autonomia que demos à acusação, além do que é permitido nos termos da Constituição. A minha única crítica é que a justiça às vezes parece mais preocupada em fazer as manchetes do que investigar adequadamente. Mesmo se a pessoa é inocentada, em última instância pelos tribunais, já foi condenada pela opinião pública.

Economicamente, o que erros cometeu?

Após o primeiro mandato de Dilma Rousseff [reeleito final de 2014], o desemprego era ainda baixo [6,5% no período, contra 11,2% no final de abril]. Ela tinha conseguido manter o emprego, ao mesmo tempo manteve as políticas sociais. Mas ela tinha que continuar investindo. Agora, os caixas estavam vazios. Dilma reconhece que a sua política de isenções fiscais para as empresas, que reduziu as receitas fiscais do Estado, foi longe demais. Entre 2011 e 2015, o estado abriu mão de cerca de 500 bilhões de receita reais (138 mil milhões de euros). E foi extremamente grave, sem pedir nada em troca para os empregadores. O investimento necessário para criar empregos não foi realizado. A partir da reeleição de Dilma, houve uma forte crise política paralisou a economia. Os patrões perderam a confiança, os bancos passam a emprestar mais. Dilma não conseguiu a aprovação do Parlamento para medidas que acreditava necessárias. Para equilibrar as contas, ela tentou cortar despesas, mas o Parlamento foi em sentido inverso, aprovando leis para aumentá-los! Parlamento parecia apostar na crise até surgir a ideia de [ "putsch" ou "scam"] golpe ...

Michel Temer, agora presidente interino, é um golpe?

O Parlamento deu o primeiro passo do golpe ao declarar admissível a denúncia contra Dilma [ela é acusada de ter aumentado os gastos em 2015 sem a aprovação do Congresso e adiado os pagamentos a bancos públicos para esconder a extensão do déficit orçamentário]. Tornou-se então evidente que esta foi uma decisão puramente política, porque a vítima não cometeu "crimes de responsabilidade", necessários para iniciar um processo de impeachment.
Em um sistema parlamentarista, retirar a confiança do governo seria aceitável. Mas no nosso sistema presidencialista não é possível. Foi então a vez do Senado passar para a segunda fase do golpe, concordando em julgar alguém que não tinha cometido um crime de responsabilidade. A partir daí, Dilma foi suspensa enquanto o  julgamento estiver pendente. Ou seja, quando chegou o golpe de Michel Temer. É constitucional, ele sabe que não há crime de responsabilidade. Como presidente interino, ele deveria manter os ministros da Dilma e simplesmente coordenar as políticas que já estavam no lugar. Agora, ele age como se o processo de impeachment já estivesse concluído, demite até o menino que servia café para o ministro de Finanças.  É como se você me emprestasse sua casa para as férias e quando você voltasse, eu teria vendido. Como se Dilma não fosse mais presidente (ou não fosse voltar). Como se Temer nunca tivesse feito parte do seu governo, quando ele foi seu vice-presidente por cinco anos. Ele participou de reuniões, ele discutiu com a presidente, com os ministros. E hoje, parece alguém de fora que vem para desfazer tudo. Ele estava muito ansioso, ele deveria ter sido mais cuidadoso. Muito ainda pode acontecer.

Então você acha possível o  retorno de Dilma?

Se eu não acreditasse eu não faria política. O procedimento permite que o seu regresso [12 de maio, o Senado suspendeu a presidente por um período de seis meses, mas pode retomar as suas funções se for inocentada]. Dilma depende apenas de seis votos [para escapar do impeachment]. Não é difícil encontrar.

Mas se se trata de poder, os adversários deixariam governar?

A política é a arte do impossível. Eu acredito na democracia, na capacidade de persuasão. Para o Brasil recuperar a sua credibilidade no mundo, temos que restaurar o mandato de quem  foi democraticamente eleito por 54 milhões de brasileiros.

Você se arrepende de ter indicado a Dilma, como afirmou o ex-presidente José Sarney em uma interceptação?

Sarney me chamou para negar. Não só teria indicado Dilma, mas eu a indiquei novamente para ser reeleita e  não me arrependo. É uma companheira de alto valor, de alta qualidade. Eu ajudei a ser eleita e reeleita. Eu confio nela. Quando governamos, as decisões que tomamos nem sempre alcançam seu objetivo. Desde o início, eu disse que o sucesso seria meu e que seu fracasso seria também a meu

E, como ela falhou, falhou também ...

Não podemos dizer que falhou porque não foi capaz de completar o seu mandato. Ainda está faltando três anos, ela poderia ter feito muitas coisas. Desde o meu tempo de sindicalista, eu digo que quero ser julgado no último dia do meu mandato. Em 2006, no final do meu primeiro mandato, alguns disseram que eu não seria reeleito. Mas eu tive 62% dos votos. Meu segundo mandato foi infinitamente melhor do que o primeiro. Eu terminei com 87% a favor e apenas 3% de opiniões adversas isso nunca foi visto na história do país. Até mesmo meus adversários reconhecem.
No final de seu primeiro mandato, Dilma foi julgada por eleitores que a reelegeram, apesar dos ataques da imprensa e das elites políticas e econômicas. Ela estava tentando reanimar a economia. Se as medidas de austeridade propostas eram boas ou não é uma história diferente. Ela tentou. Mas os partidos que estão no governo hoje se comportaram de forma irresponsável, eles não a deixaram governar. Eles se aproveitaram da má situação política e da crise econômica, anularam ações  porque tinham medo do sucesso. Ela poderia ter tido êxito, ela poderia ter que eleger alguém para suceder a si mesma.

Você será candidato em 2018?

Vamos ver. Eu tenho 70 anos de idade. A idade é implacável. Eu tenho que ver em que condição eu estou. Até então, eu espero as jovens esperanças da política emergir. Eu fui presidente. Mas se há um risco de desafio para as nossas políticas sociais, vou me candidatar.

E este risco existe?

Sim. O Brasil precisa entender que os pobres são a solução para nossos problemas econômicos. Se você dá US $ 100 para um pobre, ele não vai deixá-los no banco, não vai investir em títulos do Tesouro. Ele irá correr para o supermercado para comprar comida. Isso é o que nós fizemos com o "Bolsa Família", o crédito para a agricultura familiar e programa de micro-empresário individual [para permitir que os trabalhadores independentes para regularizar a sua atividade]. Quando você colocar um pouco de dinheiro nas mãos da maioria, estimula o comércio e levanta a indústria, que estimula o desenvolvimento. Não há necessidade de ser um economista para saber essas coisas. Além disso, este é o que o économistessavent os moins. Eles preferem se concentrar no que eles acham que o FMI ou o Banco Mundial querem.  A crise vai diminuir apenas quando for entendido que a Microeconomia forte é a base da macroeconomia saudável. Mas se cortarmos nas despesas públicas, reduzindo salários e programas sociais, o país se enfraquece. Pessoas que tinham subido duas etapas voltam à estaca zero. Eu não acredito neste modelo de negócio.

É a maneira de atuar de Temer, o atual presidente?

Ele está no trabalho em todos os lugares.

Por que a esquerda não conseguiu mobilizar o suficiente para se manter no poder, sem sofrer o golpe?

O problema não é a mobilização. No fim da ditadura, em 1983, nós colocamos um milhão de pessoas nas ruas para exigir o regresso do sufrágio universal, e nós perdemos a eleição direta. Não há milagre. Faltam seis votos para escapar do impeachment. Você tem que falar com esses senadores, para ver quais as condições que votariam para o retorno de Dilma. Só ela pode falar com eles. É preciso olhar nos olhos deles e dizer o que pretende fazer se ela retorna ao poder.

Os principais partidos, incluindo o seu,  o Partido dos Trabalhadores, estão envolvidos no caso de desvio de recursos da Petrobras, para financiar campanhas eleitorais. Por que seu partido que deveria fazer política de forma diferente, finalmente aderiu aos métodos da direita?

Deixe-me lhe dizer algo sobre Lava Jato. A justiça introduziu, em troca de cooperação, a figura do delator premiado, para aquele acusado que confessava seu crime, permitindo que se abrandasse a pena. Agora todo mundo afirma ter campanhas eleitorais financiadas com suborno [para se qualificar para uma sentença reduzida]. Faz-se acreditar que não há dinheiro limpo nas próprias campanhas. Empresas financiam campanhas e quando fazem doações não definem se é suborno. Nenhum chefe foi para um tesoureiro de partido, dizendo: "Este dinheiro é limpo, eu não dou a você, mas esses potes de vinho, eu vou deixá-los." Veremos em outubro, na eleição municipal, a primeira eleição sem doações corporativas, que já não podem contribuir para o financiamento das eleições. É uma medida recentemente imposta pelo Supremo Tribunal e defendida por um longo tempo pelo PT. A campanha vai voltar para a experiência inicial: ele terá que vender camisetas, bandeiras e estrelas pequenas [sua] símbolo, como fez nos anos 80.

Os cofres do PT ainda estão cheios, eles dizem, graças à rede Petrobras ...

Se os caixas estão cheios, será para o Fisco saber. Para levantar fundos, as partes são todas iguais. Eles não vão ver os desempregados, eles não vão para as favelas. Eles pedem dinheiro para aqueles que têm, quer dizer líderes empresariais. É por isso que o PT defende o financiamento público de campanhas. A reforma política profunda.

Por que não colocar o seu prestígio a serviço dessa reforma quando estava no poder?

Em treze anos, lançamos vários projetos de reforma [no Parlamento]. Mas a classe política, que temia por sua sobrevivência, não aceita mudar as regras. É por isso que eu queria, em 2004 ou 2005, uma assembleia constituinte para realizar exclusivamente a esta reforma. Ninguém queria. Eu martelava em minhas discussões com jovens brasileiros: a única maneira de mudar a política ainda está para entrar na política. Não adianta reclamar lá fora.

04 de março, você foi desafiado a explicar sobre supostas vantagens injustas que teria recebidos de empresas envolvidas no caso Petrobras. É a justiça independente ou é para os interesses políticos?

Como cidadão e um democrata, eu acredito na justiça. Mas há um desvio no comportamento de alguns membros do judiciário ligados com parte da imprensa. Eles parecem acreditar que, se um assunto é martelado na TV condenando alguém, a condenação se torna fácil. Vazamentos e detenções seletivas se assemelham a um show de pirotecnia. Já não estamos em busca da verdade, as evidências estão na manchete de jornal. De acordo com esta lógica, é a Globo que faz a justiça ou manda pra cadeia. [Acusam um fornecedor da Petrobrás de lhe oferecer um triplex que ele nega ser o dono] Vão ter que me oferecer este apartamento uma vez que eles afirmam que pertence a mim !

Você poderia ser preso?

Eu não sei.

Qual é o futuro do PT, que atravessa a pior crise de sua história?

A situação do PT é realmente muito ruim. Mas você vai notar que nenhum outro partido vai tomar a queda. Quando estávamos no auge, em 2010-2011, 32% dos eleitores declararam preferência pelo PT. Hoje, o partido caiu para 12%, como em 2002. Mas o Partido do Movimento Democrático Brasileiro [o PMDB do presidente interino Michel Temer] e o Partido da Social Democracia Brasileira [do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso] estão estacionados em 5% ou 6%. Eu acredito no rebote PT. Ódio e comportamento fascista conservadores contra o partido vai permitir que ele seja reiniciado.

Talvez, o PT tenha que se explicar ...

A campanha terá que explicar todos os dias, discutir, ir para as ruas. Não deve esconder.

Durante a sua presidência, o Brasil teve ambições geopolíticas e era muito ativo na cena internacional. Hoje o Ministro de Relações Internacionais, José Serra, disse que a obtenção de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, uma velha ambição do Brasil que você tinha defendido, não é uma prioridade ...

Para mim,a geopolítica do pós-guerra não pode continuar, as instituições de Bretton Woods, o FMI, o Banco Mundial estão ultrapassados. Não há nenhuma explicação geopolítica para a América Latina, África, Índia, mas também o Japão e a Alemanha não estarem no Conselho de Segurança. Se fosse mais representativo, não teríamos a guerra no Iraque ou a Líbia, que já teria criado um Estado palestino. França, Rússia e Inglaterra eram a favor da concessão de um assento permanente para o Brasil. Mas os Estados Unidos e a China foram contra. O Conselho de Segurança é um clube de amigos que vai convidar as pessoas para a festa. Se aceitarmos  como ela é, com apenas cinco membros permanentes, estaremos concordando em obedecer e  fazer o que os Estados Unidos querem... Fico triste de ver o Brasil voltar hoje ao seu complexo de inferioridade, saber o que eles pensam da Europa, EUA, China. Eu quero saber o que eles pensam, mas eu também quero que eles saibam o que eu penso. Quero ser tratados como igual. Brasil deveria ter uma palavra a dizer no mundo dos negócios. Ele tem um potencial que merece ser respeitado pelos países ricos.

Diplomacia tem sido um destaque de sua presidência. O que você lembra?

Estou orgulhoso de que o Brasil, em seguida, desempenhou um papel significativo. Nós criamos os Brics [Fórum que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], o Banco do Brics [banco de desenvolvimento alternativo], o Ibas [Fórum de Diálogo Índia, Brasil, África do Sul], o Unasul [União das Nações sul-americanas], a Celac [Comunidade da América Latina e das Caraíbas]. que disparou Alca [Área de Livre Comércio das Américas], discutido com o Médio Oriente e África mais perto e América do Sul ...

Mas as negociações para um acordo de comércio livre entre a (união aduaneira do Cone Sul) o Mercosul e a UE não avançou ... Por quê?

Porque o único propósito de Europa era vender seus produtos industriais. Nós nunca iríamos industrializar a nós mesmos. Nós caminhávamos para ser sempre exportadores de matérias-primas. Eles nos venderiam carros e nós só soja. Agora, como nós queríamos exportar tecnologia, conhecimento ... No G8 e do G20, os países europeus ricos tinham um mecanismo para controlar os preços dos produtos básicos, a única coisa que vendiam para os países em desenvolvimento! Se em vez de passar de 3 000 bilhões para resgatar o sistema financeiro, os países ricos tivessem investido esse dinheiro para ajudar os países pobres a construir um parque industrial, a crise teria sido resolvida.

E as negociações sobre a mudança climática?

Então, o Brasil tem autoridade moral e política. Nós temos a maior taxa do mundial de energia limpa (energia hidroeléctrica representa 80% do parque), 12% das reservas de água doce do planeta e a maior reserva de floresta tropical do mundo. Os países ricos, destruíram suas florestas e querem continuar poluindo. Então, eles falam de um fundo para os países pobres não cortem mais árvores. Queremos uma política de conservação séria, mas que leve em conta o fato de que os países desenvolvidos que poluíram por mais tempo, têm maior dívida com a humanidade. Mas os países industrializados não querem este debate. Para eles, tudo é resolvido com a criação de um fundo. Quando se ouve a palavra "fundo", os países pobres acham que o pouco dinheiro pode recuperar, e todo mundo acredita que esse mecanismo vai resolver o problema. Mas isso não vai resolver o problema.

Qual é o desafio atual do planeta?

Ativar continentes que ainda não desenvolveram a atingir no novo século. Eu sonho com os avanços tecnológicos que produzem mais alimentos através da exploração de menos terra, que é capaz de emitir menos gases de efeito estufa, reduzir a poluição da água e do oceano, mas sem evitar o crescimento de países pobres. Em conversas, os países ricos, por vezes, acredita que somos radicais. Mas é justo permitir a  todas as pessoas viver com dignidade.

Em que sua extraordinária carreira tem contribuído para o sucesso brasileiro no plano internacional?

Devo este sucesso para muitas pessoas. A Chirac e Sarkozy, Blair e Brown, Bush e Obama, Putin e Medvedev, Hu Jintao ou Singh, todos os chefes de Estado africanos e latino-americano. Gordon Brown falou bem de mim para todo mundo, ele disse que o FMI e o Banco Mundial confia em mim, assim como ele foi um dos meus ministros! Foi o fiador do meu governo. Eu amo isso. E eu sou muito grato a Nicolas Sarkozy, Jacques Chirac, que me tratou como um igual. Eu fui o primeiro presidente do Brasil convidado para todas as reuniões do G8.

Por que, na sua opinião?

Porque eu representava algo novo na política internacional: eu era o único trabalhador que chegou à cabeça de um grande país. Todos duvidavam da minha capacidade de governar (sorriso). Isso permitiu-me obter grande solidariedade por parte dos líderes mundiais. Especialmente poder explicar rapidamente a Bush que o inimigo para mim, não era Saddam Hussein, mas a fome no meu país, e que era esse inimigo que eu queria vencer. Depois disso, muitos líderes queriam me ajudar. Ninguém gosta de pessoas que não respeitam a si mesmos, os arrepios.

Clareia a memória...

Minha primeira reunião no G8 em Evian, em 2003 foi sem precedentes, um metalúrgico convidado para o G8 ... eu era presidente por apenas seis meses. Em Evian, o hotel foi protegido pela polícia e cercado com arame farpado. Eu pensei: "Essas pessoas, esses líderes do G8, não deve ser choirboys, caso contrário não teria sido tão assustador, não precisaria de soldados e arame farpado para atender a segurança. "Mas vamos. Eu fui de mesa em mesa para cumprimentar todos. Depois nos sentamos, Celso Amorim, o meu ministro das Relações Exteriores, Kofi Annan, em seguida, o chefe da ONU e eu. De repente, houve um suspiro e todos se levantaram. Eu pensei que Deus estava vindo ... Mas era Bush. Eu disse a Celso Amorim: "Ninguém se levantou quando eu cheguei. Então, nós não vamos levantar. Bush vai nos saudar de qualquer maneira. "E o que aconteceu? Bush chegou para nos cumprimentar