quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

É só chateação, vai passar


Outono, de Maureen Hyde


Passei a vida sem medo de enfrentar o desconhecido ou precisar evitar olhar para frente com medo de perder o que já conquistei, ou com medo de arriscar, de tentar alguma coisa nova, de recomeçar. Muitas vezes escrevi sobre o medo, mas sempre o abordei pelo lado filosófico –  como limite para o crescimento – , ou da falta de ousadia, mas hoje, limitada pela saúde, minha perspectiva é outra. Parece que tenho que agradecer por ter um trabalho em que me sinto explorada em minhas faculdades intelectuais. Medo de reagir e perder o emprego. Um medo que se confunde com a prudência. Não é medo da mudança, mas de não ter mais condição de se adaptar ao novo. Lidei constantemente  com mudanças de todo tipo, desde aquelas que parecem simples, orgânicas mesmo, como crescer, tornar-se adolescente, amadurecer e envelhecer, como aquelas que envolveram a  profissão, qualidade de vida, adaptação ao ambiente de trabalho,  realização pessoal. Todos nós desejaríamos o poder de desvendar o futuro, mas vivemos sem qualquer garantia do que poderá nos acontecer amanhã. Será que podemos garantir uma carreira de sucesso estudando muito? Sim e não. O inesperado faz surpresa.  Tudo muda. O contato com a realidade  traz, muitas vezes, dúvidas em relação aos objetivos que busquei  para minha vida, e todas as decepções, dúvidas, desânimos, fazem parte da história que escrevo.
Já fui workaholic, mas isso antes de ter câncer. Hoje minha estrutura física não me permite mais afundar 12/15 horas em trabalho como muitas vezes fiz. Mas as pessoas não entendem isso e assim não consigo manter um ritmo saudável, que permita, inclusive, fazer  dieta para emagrecer os 17 quilos que ganhei nos últimos três anos. Isso me chateia. Preciso trabalhar, claro, mas porque não posso ser normal como todo mundo? Ter um horário para isso? E outros ainda me culpam, dizem que eu me deixo ser explorada. É apenas uma meia verdade, dita por quem pode escolher. Quem já sentiu a pressão de manter sozinha uma família sabe bem do que estou falando. Quem passou por uma fase de desemprego, sem saber de onde sairia o sustento, sabe bem do que estou falando. Quem nunca teve com quem dividir despesas, sabe bem do que estou falando. Será que ainda terei tempo de viver?

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

As raças que vivem em mim

Escultura de Neusa Moraes "Monumento às Três Raças", na Praça Cívica, em Goiânia.
Sou brasileira, legítima representante das três raças (seria este o termo correto a ser usado? Não seria o ser humano de única raça?). Meus antepassados são portugueses, espanhóis, negros e índios. Nenhum sangue azul, nenhum vestígio de nobreza, apenas imigrantes, nativos e escravos. Uma rápida observação na família e terá tipos físicos para todos os gostos.
Ao contrário da maioria dos mestiços, não gosto de negar minha raça. Sinto orgulho dela. Acredito que herdei do negro a resistência, a determinação, a coragem pela vida ainda que em condições adversas. Do índio, o espírito de liberdade, o amor pela natureza e a necessidade de viver em harmonia. E do branco fiquei com o gosto pela leitura, pela escrita, pela música clássica, pela disciplina. E alguns defeitos de todos eles, hehehe.
Os trabalhos de melhoramento genético não consistem em criar híbridos produtivos, resistentes às pragas e doenças, com alto teor vitamínico?  Quer mais??? Seria capaz de convencer Hittler que  raça perfeita é a que se faz da mistura.


http://www.youtube.com/watch?v=I1zL5-3WXBA 
  http://www.youtube.com/watch?v=jMn5alxlcsE

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Perdidamente erótica

William Adolphe Bouguereau (1825-1905) Psyche et L'Amour
Bem vinda manhã de sol, de luz, de cores, de sons de pássaros! A Natureza está em festa e acabo de ver um vôo nupcial bem em frente à minha janela. Acordei erótica? Quando o assunto é sexo, o julgamento das pessoas tende a se mascarar e a se esconder atrás de falsa moral, da hipocrisia. Há quem ache divertido, há quem ache chocante e há aqueles que são tão radicais, que o sexo simplesmente inexiste, ainda mais entre pássaros! Mais que qualquer outra geração, conhecemos o sexo como produto de consumo. Erotismo ou pornografia, gestos, nádegas, seios, homens e mulheres despidos servem para vender até amortecedor de carro. Mas problema mesmo é confundir pornografia com erotismo, instinto normal e natural em homens e animais.
Enquanto a pornografia explora o sexo, sempre com explicação cultural e econômica para os atos pervertidos, o erotismo é tão antigo quanto a história do homem. Ele se encontra no Gênesis, nos poemas de Davi, nos pensamentos de Salomão. Está no Rapto das Sabinas, na Guerra de Tróia, em Cleópatra e nos grandes casos de amor. Quem já teve a oportunidade de ler as cartas de Pedro I à Marquesa dos Santos, ou do Príncipe Charles à Camilla Parker sabe disso.
Não existe nada mais difícil que interpretar os fenômenos da vida humana, principalmente quando os pensamentos chocam-se entre si e dão margens a divagações filosóficas. O que é então uma literatura pornográfica? Certamente aquela que descreve situações eróticas, libidinosas, usando linguagem pornográfica ou chula. A literatura em seu sentido puro nunca é pornográfica. Quando não se tem intenção de ser pornográfico, não há pornografia. Ela está nos olhos de quem vê na intenção de quem cria. E não há porque se confundir literatura erótica com mau gosto. A literatura universal incorpora o erotismo e a voluptuosidade desde os tempos primitivos como uma indagação sobre o homem e seu destino, a vida terrena e o futuro. Eliminar a literatura que trata do problema do amor e do sexo faria com que a humanidade perdesse um de seus mais altos instrumentos de busca e resposta sobre sua própria natureza.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Quero cama!



Thomas Benjamin Kennington (1856-1916)

Levanto num salto. Preciso levantar. Assim começa a rotina diária. Chuveiro, lanche rápido, sequência de dias, semana que seguirá sem grandes surpresas, a não ser pelos sentimentos que deverão se modificar diante das situações. A chuva fina que caiu durante a noite começa a ceder, deve fazer sol durante o dia. Mas esses dias chuvosos parecem encher de nuvens negras o céu e o meu coração. Ando sedenta de luz! Odeio esse horário de verão. Levantar hoje, para mim, significou abrir os olhos para a realidade, para a necessidade de sobrevivência, para o eterno aprendizado da tolerância, da superação, da busca da serenidade diante de tantas adversidades.  Entendo que preciso do sonho, da compreensão, da esperança para continuar acreditando no ser humano. O mundo está aí da maneira como sempre foi e o homem caminha a passos lentos para a evolução interior.
Enfim, vida que só vale a pena porque é vivida.  

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Vazio Silencioso

"
Imagem: desconheço a autoria



"Os homens de poucas palavras são os melhores". ( William Shakespeare ). Hoje, ouso dizer que há controvérsias... conheci muitos homens de poucas palavras, mas porque não tinham nada a dizer, porque eram vazios de pensamentos. Mas posso concordar com Shakespeare quando ele afirma que "lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente"


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Assim estou eu




Albrecht Durer (1471-1528)
Seated Woman
Dias, meses, anos
de angústia,
de indefinição,
de lenta espera.
Mãos, pés e boca atados.
Total impotência
de pensamentos,
de obras,
de palavras.
Tempo de agonia,
de desespero vivido calado.
Tempos  infindáveis .
Criatividade e imaginação
beiram o humor negro,.
Alternativa para vencer a ciência?
Coração abatido,
rosto triste,
mãos inertes,
joelhos vacilantes,
assim estou eu.  
E meus acúmulos?
Meus créditos cósmicos?
As flores que plantei e reguei?
Nada faz sentido.
Nem brócolis.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Hoje é dia de Santos Reis

Uma alvorada festiva despertou quem estava dormindo, com muita música e fogos de artifícios, bandeiras coloridas, enfeitadas com fitas e santinhos, enquanto, do lado de fora, os palhaços ao som do violão, do pandeiro, do cavaquinho, recitavam versos. Os foliões pediram licença para entrar e deram um ar de festa e solenidade. Os cantos têm aquele falsete agudíssimo - chamados também de tala e contra-tala - , aquele lamento choroso que corta o sertão paulista, mineiro, goiano, mato-grossense
É assim a cada ano, o Alferes da Folia, chefe dos foliões, pode bater à porta a qualquer momento, de manhãzinha, seguido dos palhaços do Reisado e de seus instrumentos barulhentos. Uma tradição popular de origem portuguesa, que sobrevive nas pequenas cidades e que, aos poucos, invade também as grandes metrópoles. Esta festa comemora o nascimento de Cristo e encerra as festividades de final de ano.
O enredo lembra a viagem que os três reis magos - Baltazar, Belchior e Gaspar - fizeram a Belém para encontrar o Menino Jesus. Os palhaços, vestidos a caráter e cobertos por máscaras, representam os soldados do rei Herodes, em Jerusalém e na Folia têm a função de animar a festa e espantar os maus espíritos.
Ah que gostinho bom de romã, de saudade, de tradição, de renovação da fé...