Imagem: Madalena, de Caravaggio
Hoje acordei com vontade de continuar na cama, de deixar a imaginação passear livre e, quem sabe, entender tudo que me acontece por dentro. Preciso daquele cantinho só meu – o meu sanctum sanctorum – para conversar com Deus, pedir-lhe luz e clareza em meus pensamentos. Para subir aos céus é necessário um mínimo de silêncio e, ao que tudo indica, a programação cósmica para meu dia é outra. O trabalho – estou de férias – vem onde estou e me pede, além do tradicional das terças-feiras, mais três textos: duas apresentações de livros e uma apresentação de CD. Não é o que quero fazer. Não é o que gostaria de escrever. Estou em momento de interiorização, de questionamentos profundos, de acerto de contas comigo e com o tempo. Ainda não desisti de ser feliz, mesmo que essa felicidade chegue por caminhos tortuosos, por uma marginalidade branca. Não quero destruir nada, mas acredito que posso construir uma ponte paralela e ter uma vida alternativa, longe das preocupações diárias.
Mal começo a pesquisar para escrever sobre um importante escritor goiano o telefone toca. Havia esquecido que hoje é dia 15 e tenho que acompanhar uma prima que veio de longe em busca de tratamento espiritual para mieloma múltiplo. Sofro! Por vários motivos eu sofro, mas já há algum tempo entendi que não posso ser Deus na vida dos outros e cada um terá que ter sua própria experiência. Não há atalhos.
Os textos continuam por escrever, tenho pouco mais de duas horas para entregá-los (duas laudas e meia – não é muito), mas antes preciso me esvaziar. Sentei aqui para escrever o quê não sei. Escrevendo posso me ler e aumento a possibilidade de encontrar uma luz para minha angústia. Estou feliz, isto é certo e verdadeiro. O bloqueio é porque nos acostumamos a pensar que a felicidade tem que seguir um rito próprio, padronizado, criado por um monte de gente – alguns até bem intencionados – que nem sempre vivenciou esta intimidade consigo. No meu coração tudo está certo, porque se eu não sou nem o meu pensamento, sou menos ainda o pensamento social. Sou mais que meu pensamento, sou mais que minha percepção, sou mais que meu querer. Pronto. Estou em paz com a minha felicidade, posso senti-la sem culpa. Mas o que faço desta saudade que toma todo meu ser, meu sentir, meu pensar, meu querer? Nossa! Quanto meu, meu, meu. Acho que estou com medo de me perder de mim e estou buscando garantias. Sou humana, portanto, por mais que me esforce no desenvolvimento das virtudes, o egoísmo está presente. Que bela mentirosa eu seria se não admitisse para mim mesma que os possessivos não apareceram por acaso, mas que evidenciam meu estado de alma atual. Entendo que preciso agora me fixar em sentimentos nobres. Talvez, renúncia. Não a renúncia de ser, mas a renúncia dos moldes tradicionais. Descobrir, a cada momento, que o amor consegue romper os limites do tempo e do espaço. Posso fechar os olhos e encontrar você em algum lugar do imaginário. Volto então a ser Maria. Nossos olhares perdidos se encontram, nossas almas se entrelaçam num profundo e esplendoroso abraço. A fascinação deste encontro é como um poema, sedução e paixão. Apenas sentimento e o som universal do piano que agora escuto, introduzindo a música Todo Sentimento.
Posso então voltar ao trabalho!
Maria é mulher, fala de vida, de experiência, de sentimentos, de sexo, de lições e apreendizado, um universo identificado por qualquer mulher (e até mesmo homem). Ela sou eu, a outra, todas elas, qualquer mulher, uma mulher qualquer. É a mãe, a dona de casa, a profissional, a prostituta, a religiosa, a vencedora, a fracassada, a lutadora, a cansada, a jovem, a velha, a sábia, a louca. Não é Maria por acaso.
Nada mais belo que o amor! Só o amor tem o poder de acrescentar dias a nossa existência, ele nos faz recriar o ânimo e descobrir forças de onde jamais esperávamos encontrar. Como sempre, um belo e rico texto! Abraço!
ResponderExcluirLindo texto meu anjo!!! Te quero muito bem! Beijos. TE AMO!
ResponderExcluir"Acredito que posso construir uma ponte paralela e ter uma vida alternativa, longe das preocupações diárias."
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
1 Coríntios 13:4-7
@randel
Putz! Esse Anônimo me pegou de jeito... não sei se é a minha querida Rô Torquato... De qualquer forma, seja quem for, obrigada!!
ResponderExcluirRandel, tenho certeza que você me entende profundamente. Com certeza almas gêmeas em outros tempos e outros lugares, rsrsrs. Felicíssima com sua visita e, como já lhe disse, gostaria muito de tê-lo como habitante deste templo... Mil beijos!
ResponderExcluirDemorei para encontrar você. Agora quero virar fregues do blog e de Maria.
ResponderExcluirÉ sempre um prazer saber que somos lidos... seja bem-vindo!
ResponderExcluir