terça-feira, 25 de março de 2014

Sonhos de Outono

Autumn Peace, de Mary Jane Cross
Uma nova relação de palavras, imagens e sentimentos, começa a se formar diante de mim. Percebo que é possível viver todas as estações trazendo na alma os raios da primavera, da fertilidade, além do encantamento que lhe é próprio.
O outono traz a saudade de volta, mas não de maneira dolorosa. Não há dor no outono das nossas vidas, porque ele traz junto a compreensão. Imagens de tempos vividos, lembranças do primeiro amor, do entusiasmo do verão, da pureza da primavera, são impulsos para o futuro e servirão para nos aquecer no inverno, já não tão distante.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Mãos do Outono






Estou há algum tempo
a olhar minhas mãos.
São bonitas,
delicadas,
pequenas,
palmas finas sem calos
 – típicas de quem trabalha
em atividades que
Hands, de Lance Richlin
não as machucam –,
mas ao virá-las,
vejo as marcas do tempo.
Pequenas manchas
e rugosidades,
como folhas desidratadas
que caem no outono.
Mãos que inspiraram poemas
no frescor da primavera, 
hoje contam histórias.
Marcas de uma vida
que nada tem de diferente
de tantas outras vidas.
Mãos que se reconhecem
no trabalho
Do campo à cidade,
da cozinha à redação,
do quarto à sala de visita.
Mãos que se reconhecem
No carinho
Da criança ao idoso.
Mãos que bordaram sonhos,
que modelaram doces fantasias
no mundo encantado
de fadas, princesas
e super-heróis.
Mãos que se aquietaram
para contemplar as cores
Mão que repousaram
suavemente
para a consciência voar
na imensidão do Universo,
embalada na espiral
do Bolero, de Ravel.
Mãos que se unem
em oração ao tempo.

sábado, 22 de março de 2014

É o amor!

Imagem: Les maries dans le ciel de Paris, de Marc Chagall

Sabe aquele momento em que nossas crianças crescem, casam e mudam? Deveria nos deixar felizes, no entanto, sofremos. Mas é um sofrimento confuso, pois intimamente partilhamos a felicidade do momento. Todos admitimos que crianças são seres em formação,mas temos dificuldades em soltar a flecha. 
As sociedades primitivas entremeavam os ciclos naturais com rituais de passagem, trazendo sempre à tona, por riqueza simbólica, as questões do nascer e morrer e as sucessivas transformações pelas quais somos submetidos enquanto seres vivos. Estamos em constante processo de crescimento e amadurecimento e, mesmo sem a aura do mistério ou da magia, os ritos de passagem acontecem: aniversários, batizados, formaturas, casamentos, velórios. Cerimônias que nos ajudam a representar o indizível e nos preparam para suportar melhor a passagem de um estado de ser para outro. São nossas iniciações necessárias... 
Toda felicidade meus queridos!

Ah! Meu lindo outono!

Imagem:
Edward Cucuel (1875-1954)
Autumn Sun
Oil on canvas
A palavra Outono me transmite tristeza, cores alaranjadas e musgosas que aos poucos estarão completamente secas, áridas. Outono, nesta região do Brasil, significa alternância de dias quentes e frios, as chuvas se tornam mais escassas, em compensação, são as manhãs mais lindas do ano e o finais de tarde, com seus matizes parecem carregar toda a tristeza.
Eu nasci no outono. Numa manhã de domingo ensolarada. No ciclo da vida, eu me encontro em pleno outono. Aprendi a encontrar o equilíbrio entre as diferenças e a enxergar a beleza com um olhar diferente. É no outono da vida que nos despimos da vaidade - assim como as árvores perdem suas folhas, flores e beleza, para mostrar a sua resistência às intempéries, à capacidade de renovação. Não importa se vamos renascer ou não, o que importa é que estamos vivos e conscientes. Em todas as fases da vida, em todas as estações, a única coisa que não pode morrer é a esperança.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Retrato

Old woman at the mirror, de Bernardo Strozzi


 

Eu não tinha esse rosto de hoje
Assim calmo, assim magro, assim triste
Nem esses olhos tão vazios
Nem o lábio amargo

Eu não tinha essas mãos tão sem forças
Tão paradas e frias e mortas
Eu não tinha esse coração
Que não se mostra

E eu não dei por esta mudança
Tão simples, tão certa, tão fácil
Em que espelho ficou perdida
A minha face


(De Sueli Costa)

Equilíbrio

 Feather Equilibrium, de Salvador Dali

Trilhar o autoconhecimento parece utopia, principalmente, se perdermos o foco e nos detivermos nos detalhes do cotidiano, nas notícias de violência, no olhar tendencioso que só consegue enxergar o mal em todos os lugares. Buscar a verdade é trilhar o caminho do meio, com retidão e passos firmes, disciplinados e humildes. Além do equilíbrio, todas as outras virtudes permitem ao homem ser melhor e mais consciente de seu compromisso com o mundo físico e espiritual.