sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Das lições que aprendi

The Passage, de Maureen Hyde


Há momentos na vida que sentimos angústia por não compreendermos nossa condição humana e, ainda assim, ao mesmo tempo, atingimos estados de consciência em que tudo e nada se confundem e se completam. A angústia dá uma sensação de aperto no coração, desperta medos, sem que saibamos exatamente de quê. Momentos que o estudo disciplinado de si mesmo fornece ferramentas necessárias para enfrentarmos o sentimento de desamparo. Somos desafiados a ficar diante de nós mesmos e responder perguntas que sempre evitamos. É neste momento que o conteúdo interno faz a diferença e separa o mundo interior do exterior. Ficamos firmes como a rocha diante das tempestades e vicissitudes da vida. Não é uma questão de educação, cultura ou conhecimento científico, mas de nossa capacidade de interiorização, de administrar os conflitos, de mergulhar na dor e se entregar à vacuidade, ao sentido de inexistência.
Angustiar-se é existir. Quando percebemos que momentos de dor não nos representam, encontramos força suficiente para buscar os fundamentos de Ser. Falar de morte é falar de vida, de renovação, de transformação. No confronto com a morte, o tempo adquire novos significados e assume maior importância na orientação das atividades diárias. A compreensão de que esta vida é passageira, que nosso tempo para ser feliz é aqui e agora, deveria funcionar como um estado de alerta para todos nós. Quem vive sabendo que vai morrer, certamente aproveita melhor seu tempo e privilégio de partilhar sua existência


Deus, o Inefável

Lee Teter
Papai costumava se referir a Deus sempre como O Inefável, como beleza e perfeição tão grandes que se torna impossível descrever em palavras. As palavras sempre falham quando mais precisamos delas, por isso, ouso, dar mais um significado para a palavra inefável: é como me sinto agora. Não existem palavras para definir meu sentimento. Estou há horas dando voltas em torno de um único pensamento, sem conseguir mudar seu curso. São momentos de extrema solidão, sem ter a quem recorrer, a não ser aos próprios conteúdos internos. Tentar falar/escrever causa estranhamento: não falo uma língua comum. Não compreendo o que me dizem e nem me sinto compreendida. Silêncio.

A Travessia

Old man and the sea, de Vic Gomery


Gostaria de agradecer a cada um em particular, mas não tenho condições físicas nem emocionais para fazer isso. Tantos amigos, tantas palavras de conforto, de carinho, de amizade, de gente que há tempos não vemos, de gente que está sempre por perto, de gente que sempre nos surpreende. A atenção dos médicos que o atenderam , em especial Dr. Aloísio Ferreira e sua equipe do Hospital Jardim América, o corpo de enfermagem, duas das quais choraram junto comigo quando meu pai partiu. E foram tantas orações... todas acolhidas pelo nosso pai com o mesmo amor.

Eu nunca vi alguém partir com tanta coragem, consciência, lucidez e serenidade. Eu diria que o papai estava até um pouco eufórico, tão grande era sua fé. A todos que diziam que estariam em oração, ele frisava: "orem para que eu siga o caminho da Luz. A vida não é aqui... está do outro lado". E se foi na Luz... tornou-se estrela. Esbanjou, até o último minuto, sua inteligência singular e sabedoria. Riu, brincou, fez piada... e choramos juntos quando me fez prometer que não deixaria que ele fosse levado para a UTI, que queria ter uma morte natural, sem máquinas a lhe prolongar a morte. Foi tudo do jeito que ele quis, com a família e amigos mais próximos compartilhando seu final. 

A saudade já começa a apertar, antes mesmo que a ficha tenha caído por completo. A casa está vazia, silenciosa. Mamãe muito calada. Mas há paz nos envolvendo. A mesma serenidade que nosso pai demonstrou ao partir. Pequenas mostras que se nosso corpo está aqui e agora, nossa mente pode estar pesquisando outros labirintos, outros sentimentos, outras formas de existência, e a cada descoberta, por menor que seja, percebemos que a vida é um grande presente. O silêncio pode clarear lições. Em silêncio a vida pode encontrar seu sentido, a serenidade pode conhecer seu caminho, e o ser humano pode se render à sua imperfeição sem ser vítima de julgamento.

Poucas vezes paramos para pensar no privilégio que temos em compartilhar um mesmo período de nossa existência com familiares, amigos, autoridades, ou quem quer que seja. Vivemos uma fatia do tempo apenas e muitas vezes perdemos a melhor parte, gastando nosso tempo em satisfazer nosso ego. A preciosidade que é a vida passa despercebida nesse emaranhado que o mundo tece. É a morte que nos nivela, nos torna iguais em todos os sentidos: não há fortuna, cor de pele ou poderio capaz de evitar a morte. Vida e morte fazem parte de um processo único, tudo que nasce morre. Estrelas nascem e morrem. O homem não seria a exceção,

Imagino que todos nós convivemos bem com a morte. O que temos de maneira inexplicável é o medo de morrer. Há uma diferença sutil. A morte é inevitável e acabamos por aceita-la de forma tão legítima, que nem gostamos de pensar nela. Fica o medo de morrer, as dores que poderemos sentir, as humilhações a que poderemos ser submetidos quando não conseguimos mais cuidar do próprio corpo, o sofrimento que poderemos causar nas pessoas que deixamos aqui, a insegurança de habitar um espaço chamado saudade.

Estamos na vida para viver e a morte nos remete de forma direta e inquestionável ao fenômeno da vida. Papai entendeu bem isso, sem medo, foi nosso exemplo de vida e de morte.

Obrigada a todos!

A Árvore da Vida

Arbor Vitae, de Jen Toplak

Foi assim.
A menina saliente,
alegre, feliz,
irmanou-se ao tempo
e abraçou a realidade.
E o tempo transformou
Seus coloridos matizes.
Não mais sorridente,
Não mais menina,
Não corre ao vento.
Fincada ao chão,
Cria raízes.



Vida e consciência

Woman with a Burden, de Ron Cheek

Albert Camus usa o mito de Sísifo para explicar a condição humana e promover o que ficou conhecido como “A revolta metafísica”. Explicava Camus que a vida dos homens era tal como o mito de Sísifo: seguir uma rotina diária, sem sentido próprio, determinada por instâncias como a religião e o sistema capitalista de produção. No mundo administrado, levantamos de manhã, trabalhamos, comemos, reproduzimos etc., e tudo isso não faz o menor sentido, já que se refere a modos de pensar que se impõem ao indivíduo sem que ele participe da estruturação desse modo de vida, como se não tivéssemos escolhas.
Entretanto, a culpa de Sísifo foi pensar por conta própria. E sua condenação foi aquela que mais sofrimento pode trazer a um homem que pensa: a realização de um trabalho sem sentido. Por toda a eternidade deveria Sísifo empurrar uma grande pedra redonda até o cume de uma montanha. Ao completar seu trabalho, ele veria a pedra simplesmente rolar ladeira abaixo por força da gravidade. E então ele deveria trazê-la de volta…
O belo, na história de Sísifo, é que ele continua fazendo seu trabalho, e este é o seu objetivo. Ao subir a ladeira, ele se confunde com a própria pedra, comunga com ela o destino de ascender, de não estancar em lugar algum. Ao rolar a pedra, o herói executa sua arte. A descida não lhe interessa, não depende dele, é natural e inexorável.
Sísifo poderia livrar-se do castigo, mas para isso teria que tornar-se inconsciente, ou talvez morrer. Mas ele ama esses dois companheiros: a vida e a consciência. Então continua, mesmo sem considerar a possibilidade de deixar lá em cima a pedra.

A maldição de Sísifo é o que o transformou no verdadeiro herói, como todos somos.

Música: Jota Quest:
 " E eu vou!
Esquecer de tudo
As dores do mundo
Não quero saber
Quem fui
Mas sim quem sou
E eu vou!
Esquecer de tudo
As dores do mundo
Só quero saber do seu
Do nosso amor... "

Bem-vindo!

Neste Natal festejamos a anunciação de nova criança na família. Precisava mesmo. Há muitos anos não ouvimos o barulho de crianças, que alegra, que entusiasma, que contagia. Seja bem-vindo Bebê. (Pai: Pedro Henrique Porto Capel; Mãe: Marcelli Pagliuco; Avô: Francisco Fernandes Capel Paco) e em sua homenagem o texto da bisa Alice Capel.

Imagem: Vittore Carpaccio (1450-1525)
Holy Family with Two Donors

                                                                     NATAL




Disse um filósofo – NATAL é um mistério...um evento para o coração!

Pensando bem, realmente, diferentes pessoas em diferentes regiões vivem o advento do NATAL , as mais variadas emoções - alegrias, amor, solidão, ternura, perdão, arrependimento, esperanças, recordações, promessas, e demais sentimentos.

Neste misto de emoções percebemos que há uma inevitável reflexão em cada um de nós. Afloram recordações de um edito romano em que José e Maria, numa árdua caminhada em busca da LUZ, procuram um lugar, apenas um lugar, onde pudessem repousar e relaxar até aguardar o sublime momento. O estábulo, somente um estábulo era o único abrigo disponível.

Foi aí que Maria deu a LUZ ao seu Filho primogênito, envolvendo-o em panos, relaxando o seu corpo cansado.
Imaginar esse cenário e seus personagens simbólicos, leva-nos a refletir sobre a nossa caminhada na vida em direção a uma nova aurora, uma nova LUZ.

Aos poucos vamos compreendendo que a nossa jornada, em busca de nós mesmos, é mais longa que a própria vida. É nesse mistério do NATAL que, a cada ano, nos envolvemos espiritualmente, reforçando nossos princípios, fortalecendo nossas convicções.


Esteja o Cristo presente em nossos corações em cada símbolo, em cada manifestação, dessa jornada natalina, para o advento nos traga a certeza de um ANO NOVO pleno em amor, saúde, prosperidade, harmonia interior, serenidade e muita paz.