terça-feira, 24 de setembro de 2013

Espelho meu!


(Imagem de Jon Boe Paulsen, artista norueguês contemporâneo. Segue a tendência do Realismo)
Sem sono, assisti ontem ao filme “Espelho, espelho meu”, com Julia Roberts, e fiquei imaginando como os contos de fadas são ricos em elementos simbólicos. No caso, o espelho exerce grande fascínio sobre mim por trazer à tona coisas guardadas na profundeza inconsciente. Por efeito de estranha magia permite-me quebrar a cadeia habitual de pensamentos para mergulhar em considerações a respeito de meu próprio reflexo. É muito bom quando posso me identificar com a beleza, com a sabedoria, com a ética. Mas a luz tem suas sombras. Percebo que também as pessoas são como espelhos e só identifico nelas, aquilo que tenho em mim.

Esperança

(Imagem: Hope, de George Frederic Watts, mais famosa depois que Obama disse se inspirar nela)

Recomeçar, quando tudo encaminha para o desânimo; sorrir quando as máscaras caem; continuar acreditando, mesmo quando evidências apontam para a perda da fé; enfim, manter a firmeza sem se deixar levar pelas ondas. Quando nos exigimos muito, corremos o risco de ir à fronteira de nossa capacidade. Renovar-se é dar chance à esperança, à crença emocional de resultados positivos, que estimula a seguir na labuta. Esperança, como disse Bilac, “a divina mentira que dá ao homem o dom de suportar o mundo”. Esperança de nos acharmos, de nos compreendermos, de nos transformarmos, de vencermos o conflito interno de angústia e solicitude, de voltarmos para o outro com o mesmo olhar generoso que nos vemos no espelho.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

No túnel do Tempo

 Alegoria do Tempo (Chronos e Eros) , de Johann Heinrich Schonfeld




O tempo impõe limites, no entanto, o aprendizado nunca acaba. Nesta caminhada interna, ao analisar e identificar cada situação vivida, cada valor cultivado, cada batalha perdida ou ganha, percebi que a esperança habita o futuro. No passado estão apenas as lembranças. As escolhas que fiz escreveram a minha história e continuarão a escrever, talvez com mais serenidade, mais sabedoria, menos ansiedade, mas ainda a mesma história. A juventude deu lugar à maturidade, a rebeldia cedeu à compreensão, a intolerância encontrou aconchego na ternura e, finalmente, entendi que estou na vida para buscar a felicidade. Sou privilegiada ao entender que ainda tenho tempo para mudar. A chave do tempo está na capacidade de mudança e de adaptação ao novo. Viver é o antídoto para o tempo.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Encontro de almas



Imagem de Julie Bell







Pouco importa se é primavera  na natureza e eu estou no outono da existência . 
Ali, naquele ponto perdido em algum lugar do espaço as diferenças não existem. Apenas sentimentos. 
A paixão é habitada por um demônio, alucinação amorosa, abismo, arma que corta e faz sangrar. 
Mas naquele instante mágico somos apenas dois amantes apaixonados alimentando o espírito. 
Fundimo-nos embalados pela música que somente nós ouvimos. 
Almas entrelaçadas. 
Um encontro sem toques.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Na chuva

Imagem de Andre Kohn


Cheiro de chuva
Cheiro de terra molhada
Tipo estrada poeirenta
Choveu ontem
Sobre a cidade
E em minh’alma
Como a terra fecundada
Também eu
Fui fertilizada
Plantada em solidão
Brinquei de árvore
Servi de abrigo para
Um sonho pássaro
De canto alegre
Ninho de saudade
Amanheci prenhe de
Ternura  e esperança.
Prenhe de vida.
Bem vinda Primavera


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A hora de se jogar

Imagem de Julie Bell
Tenho um rosto, um nome, um endereço conhecido. Aposto naquilo que conheço e a primeira atitude concreta é assumir cada palavra, cada pensamento, cada ato aqui registrado. 

Comecei pela disciplina de me obrigar a escrever, pelo menos, uma vez por semana. 
A obrigatoriedade de percorrer os labirintos mentais e emocionais abre, com certeza, os portais da compreensão, sem medo de me expor. 

Este escrever a que me refiro vai além das palavras, das frases bem elaboradas, dos textos brilhantes. Falo de sentimentos, de descoberta. 

Deixo para trás a timidez, mas vou continuar contando histórias. O olhar treinado para perscrutar almas mostra que só posso esperar por novas experiências se estiver aberta a elas. 

Quem sabe não surge uma Maria mais atrevida, que deixa sua sensualidade vir à tona e supera a natural impaciência pela falta de surpresas?

Um sonho

Duas crianças, de Pierre Auguste Renoir
Sonhos todo mundo tem. O meu é fazer literatura infantil. Que comece com "Era uma vez..." e termine com "e foram felizes para sempre". Escrever para crianças é, na minha opinião, a depuração máxima da palavra: pura, simples, acessível, despida de qualquer vaidade e interessante a ponto de prender a atenção de um leitor exigente. Busco isso na vida, busco isso na literatura. Antes tenho que me libertar de minha história...

À espera da Primavera


The Flower Girl, de Emile Vernon
Os dias tristonhos se findam. Esta quinta amanhece com céu azul, nuvens brancas, sol brilhante, vento frio e seco. Mais um dia para louvar e agradecer a vida, sem tentar entender o propósito dela, mas simplesmente, deixar-se esvaziar de pensamentos e contemplar a dádiva recebida. O olhar poético, as palavras soltas e a criatividade apenas fluem. Desvendar o grande mistério da vida começa de forma individual, passos lentos de uma caminhada que se faz de dentro para fora. Enquanto brindo à vida, o mundo que existe fora de mim segue seu curso normal, cheio de contradições, de dualidade, de um cotidiano de lutas que não permite a contemplação do que realmente importa: a beleza da criação no caminho de ida ao trabalho – em meio ao engarrafamento – , na revoada de periquitos e cantos de bem-te-vis, nos canteiros floridos que ficam entre as avenidas nervosas, minimizando o ronco dos carros, a buzina dos atrasados. Essa predisposição para ser feliz é interna.

Tristeza que dói

"Maria Madalena" – de Bartolomé Esteban Murillo

Há muito tempo não me sinto como estou hoje, tanto física, como mentalmente. Os últimos dias não foram risonhos. Não existem palavras que consolem a dor da perda, a tristeza dolorida, a saudade sem endereço, o medo que não sei de quê. O medo, por si só, já é sofrimento. Natural, portanto, essa angústia generalizada e sem motivo aparente, mas que assusta. Angústia que desequilibra a dinâmica psicológica, provoca transtornos mentais e dá sensação de aperto no coração. Estou convicta que essas sensações fundamentam a condição humana diante da liberdade absoluta, da vida ou da morte, o que, por sua vez, não me dá (nem a ninguém) autoridade para qualquer julgamento. Nem todo o conhecimento do mundo seria capaz ou suficiente para me representar diante do abismo da identificação. Nem mensagem de autoajuda. Passear na minha alma nestes momentos é um risco. Sinto cansaço profundo.