Jacques Carabain (1834) Many Figures at an Auction on the Grande Place in Brussels - Oil On Canvas
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Maria me observa atentamente
enquanto me visto para o primeiro passeio oficial. Estou confusa ainda: fuso
horário, a dor pela perda recente de meu pai, a alegria da concretização de sonho acalentado e abandonado nas curvas da vida... e o medo.
- Medo? Como assim? Porquê? De
quê?, indaga Maria.
- Simples. Medo do desconhecido. Medo
de que as informações armazenadas ao longo de nossas experiências não sejam
suficientes para fundamentar as surpresas que certamente virão.
Ainda assim me preparo com esmero
para sair. Quero estar bonita. Os últimos meses me mostraram um reflexo no
espelho de constante sofrimento, cabelos com raízes brancas, olhos inchados e
sempre vermelhos. Tudo bem. Eu sei que
não é questão de geografia. Não basta sair para achar que nossos sentimentos mudarão
como passe de mágica. Munida de mapa interior de acertos e erros,
desejos e realizações enfrento as sonhadas férias. Fica visível para mim a
dualidade que permeia as ações humanas. Há um lado subjetivo e abstrato que
também escolhe e organiza as atividades, e outro, racional e concreto, que
possibilita perceber a realidade. Não é preciso ser mágico ou ter poderes
especiais, basta apenas manter a disciplina e ter a certeza de suas reais
motivações, ganhos, perdas e riscos para formular bons objetivos, que valham a
pena correr para alcançá-los.
- Escolha sem medo. É assim que agem os vencedores, diz Maria.
- Escolha sem medo. É assim que agem os vencedores, diz Maria.
Bruxelas é a primeira viagem no
tempo. Na Grand Place, o clima medieval se torna áspero e hostil, presente com
mais intensidade com o vento frio e a chuva fina. Há sensação de
pertencimento, de ter conhecido aquilo e também certo desconforto. A
sensação de desconforto se instala em meus olhos. O vento entra por trás das
lentes e os fazem arder e lacrimejar. Aproveito então para deixar minhas
lágrimas caírem enquanto olho e fotografo apenas com o olhar. Não consigo tirar
a mão do bolso, mesmo com luvas, por causa do frio. São muitos detalhes arquitetônicos. Uma parede
vista de longe esconde mil detalhes quando vista de perto. É. Os medievais não conheciam a fotografia. Os artistas se encarregavam do olhar diferenciado. E são tantas
janelas. Tantas janelinhas nos tetos. Não pesquisei, mas deu para perceber que
as edificações teriam datas diferentes e pelo menos três estilos ficaram claros: gótico, barroco e clássico. Pesquisa posterior mostrou mais um:
o neogótico.
A caminhada pelas ruas e vielas
próximas mostrou outro lado: bares e restaurantes frequentados, em sua
maioria, por jovens. Nítida demonstração
de que a noite fria não era nenhum problema. Muitos turistas. Esperava ouvir francês, mas ouvi muito o japonês,
ou seria o coreano? E pasmem: português também, e do Brasil. Aliás, brasileiros
foram companhia em quase todos os lugares que visitamos.
Passando por uma galeria tenho sessão solitária e nostálgica observando a vitrine de chapéus "retrô" e boinas
como as que meu pai usava. Sinto saudades. Mas naquele cantinho eu volto a me
encontrar. Pé na realidade para não deixar que o sonho e a fantasia me
arrebatem. O frio convida a um chocolate quente, mas já está tudo fechado. Vamos
tomar café no hotel mesmo. O chocolate belga só será degustado em Berlim,
alguns dias depois.
Maria é mesmo companheirona. Não me abandonou um minuto sequer. Trocamos informações, impressões, mas, principalmente, ela esteve presente para me dar confiança. Sempre poderemos contar com as surpresas, com o imponderável, com situações completamente novas. Isso é fato. No entanto, o que nos segura nas situações imprevistas são princípios e valores que escolhemos para nossas vidas. São colunas de sustentação diante do desconhecido. Bruxelas deixou sua marca como tempo passado dando suporte ao presente. Estava vista e registrada, possivelmente, como o début. Encantada, mas não deslumbrada! Sim, eu seria capaz de empreender os 30 dias sem me perder de mim e de minhas origens.
Maria é mesmo companheirona. Não me abandonou um minuto sequer. Trocamos informações, impressões, mas, principalmente, ela esteve presente para me dar confiança. Sempre poderemos contar com as surpresas, com o imponderável, com situações completamente novas. Isso é fato. No entanto, o que nos segura nas situações imprevistas são princípios e valores que escolhemos para nossas vidas. São colunas de sustentação diante do desconhecido. Bruxelas deixou sua marca como tempo passado dando suporte ao presente. Estava vista e registrada, possivelmente, como o début. Encantada, mas não deslumbrada! Sim, eu seria capaz de empreender os 30 dias sem me perder de mim e de minhas origens.
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