sexta-feira, 8 de maio de 2015

Um olhar diferente sobre a Holanda

View of Arles with irises in the Foreground, de Vincent Van Gogh
A viagem de trem, as belas paisagens, o período de silêncio, serviram para me preparar para a chegada em Amsterdam, mas não para o vento gelado. No mesmo dia saímos para Keukenhof, fomos ver as plantações de tulipas. Um verdadeiro espetáculo para olhos que me fez esquecer as primeiras impressões. Vermelhas, amarelas, azuis, roxas, grandes, enormes, pequenas, miúdas. Fotografei até ficar sem bateria e perdi de registrar um dos salões mais interessantes em homenagem a Van Gogh. A sorte que meu irmão registrou tudo. Entramos no pavilhão sem perceber, vi as cópias gigantescas de obras do artista até que me deparei com a reprodução do quarto de Van Gogh. Sabe a tela do quarto dele? Pois bem eu estava ali, diante do próprio quarto. Fiquei quase eufórica e voltei para ver tudo de novo, agora com o olhar direcionado, mas já com o celular descarregado. Sunflowers, Irises, Irises in vase, View of Arles with irises, e tantas outras. Sensível e singular homenagem com criatividade de apresentação. Keukenhof me presenteava com o seu melhor espetáculo de cores e beleza. E mais, lá tinha o moinho que eu tanto queria ver. Claro, montado para prazer dos turistas, mas me satisfazia, e tinha também enormes tamancos. A loja de souvenirs oferecia uma quantidade enorme de miniaturas e tamancos para uso pela bagatela de 40 euros. Não comprei nenhum, lógico! Mas a Holanda se completava para mim com os moinhos, os tamancos, as tulipas e Van Gogh.
The New Town Hall in Amsterdam, de Jan van der Heyden
Ao voltarmos para Amsterdam fizemos um passeio a pé pela cidade. Tinha expectativas a respeito da cidade, achei-a acolhedora e de uma população diversificada. Não estava mais esperando ver moinhos ou pessoas de tamanco, talvez no interior do País, e, mesmo sabendo que ali, em frente ao hotel onde nos hospedamos, estava o maior bicicletário do mundo, me surpreendi com a quantidade de idosos usando a bicicleta como meio de transporte. Saí do Brasil com a cabeça de legalmente idosa e na Europa eu percebi que ainda era jovem. Não sei se são velhos pela idade ou se aparentam ser mais velhos, talvez pelo clima, mas de qualquer forma em toda a viagem esses idosos que vi me ajudaram. Senti uma força descomunal para superar a mim mesma fisicamente. Não era possível que eu, jovem ainda em relação aos idosos europeus, entregasse os pontos. Em todos os lugares também vi cadeirantes. A começar pelas calçadas, é possível trafegar nas cidades por onde passei (mesmo as menores como Lourdes, Graz, e Never) em uma cadeira de rodas. A sensação que tive é que na Europa tem muito cadeirante. Sensação certamente equivocada, acho que lá o deficiente físico sai de casa. Enfim, alguma coisa que é deles lá - e que a simples observação não consegue ir além da superfície – tira de dentro de casa o idoso e deficiente físico. Algumas vezes senti pena de ver velhinhos alquebrados pelo tempo, com a cabeça caída, carregando suas compras de supermercado. Não sei se isso é bom e/ou ruim.
Capricio sunlit towh view in amsterdam, de Joahannes Franciscus Spohler
Não é preciso conhecer bem a história da cidade para perceber que o rio e os canais desempenharam papel importante no desenvolvimento da cidade. Sentia-me desafiada a encontrar essas imagens, mostradas pelo olhar diferenciado dos artistas. As construções muito lindas e, se olhadas no geral, muito parecidas. Era preciso descer aos detalhes. Nenhuma janela igual a outra. Como as pessoas que também caminhavam. Passamos na rua da Luz Vermelha e os companheiros masculinos se sentiram constrangidos e fisgados pelos olhares tristes das prostitutas nas vitrines. Engraçado que nenhum fez comentário algum, somente depois, no hotel trocando as impressões, os dois constataram ter percebido a mesma coisa. As meninas se silenciaram a respeito do assunto. Particularmente prestei atenção em outras coisas e não cheguei a cruzar o olhar com nenhuma delas. Talvez porque elas também não me olharam nos olhos. Em nossas andanças fomos ao local na Universidade onde meu sobrinho lecionou por seis meses, passamos pelo Museu do Nemo e voltamos para o Hotel. Amsterdam não me convidou a grandes reflexões. Acho que começava a me entregar mais a viagem e a sair um pouco dos meus sentimentos. Parodiando Marcelo: Amsterdam estava vista

Nenhum comentário:

Postar um comentário