segunda-feira, 25 de maio de 2015

Nem só de valsas viveu o Danúbio

Rudolf von Alt - View of Budapest from Castle Hill at Museum of Fine Arts Budapest Hungary



Amanhece frio em Budapeste. Venta muito e uma chuva fina insistente ameaça cair a todo instante. Nem assim ficamos em casa, havia muito o que explorar e nosso roteirista havia reservado um dia para Buda e outro para Peste. Ainda não completamente invadida por turistas, a cidade é fascinante e repleta de monumentos grandiosos. É bom conhecer um pouco de sua história e, para não escrever o que alguém já fez com mais propriedade que eu faria, vai aqui um site:  http://www.aproximaviagem.pt/n5/05_budapeste.html


Conhecendo, então a história de Budapeste e sabendo do sofrimento de seu povo com o nazismo e o comunismo a cidade tem o que mostrar. Começamos com nossa tradicional caminhada até a Ponte das Correntes para ir a Buda. Antes passaríamos pela praia onde foi construído o memorial em homenagem aos judeus assassinados pela milícia fascista Arrow Cross (Cruz de Flechas) durante a Segunda Guerra Mundial, quando Budapeste se aliou ao nazismo. Eles eram obrigados a retirarem os seus sapatos antes de serem executados com um tiro na nuca ou metralhados. Os corpos caiam sobre o Danúbio e eram levados pela correnteza. Mais conhecido como Monumento do Sapatos, o monumento “Os Sapatos às Margens do Danúbio” foi idealizado pelo diretor de cinema Can Togay e criado por ele e o escultor Gyula Pauer, que criou sessenta pares de sapatos em ferro, no estilo dos anos quarenta. Os sapatos foram fixados na pedra por cerca de 40 metros e numa base de 70 centímetros. Em três pontos existem placas com o seguinte texto: "Em memória as vítimas assassinadas no Danúbio pelos militantes da Cruz de Flecha no período de 1944 e 1945. Produzido em 16 de abril de 2005." Este memorial foi erigido num sábado e instituído como o dia de lembrança às vítimas do Holocausto na Hungria.

O frio intenso e o vento dolorido no rosto parecem ter ajudado a aflorar minha sensibilidade. Chorei muito nesse dia e ainda mais porque estava lá um grupo de turistas judeus prestando homenagem. Carregavam flores que depois foram jogadas no Danúbio. Este é um Danúbio cinzento, que em nada lembra a magnitude exaltada na valsa vienense. Ele também conta histórias tristes.

A travessia pela Ponte das Correntes foi embaixo de chuva. Mal pudemos vê-la nesse dia, mas no dia seguinte a vimos sobre vários ângulos no tour de barco e de ônibus. Inclusive à noite. A Ponte é simplesmente magnífica.  Enfim, chegamos do outro lado e pegamos o funicular para subir a colina. Um carro ameaça os pedestres e quase pega minha cunhada. Aparece aí uma personagem que não anotei o nome, confiando em minha memória, e chegando ao hotel já havia esquecido. Ela deu a maior bronca no motorista e depois nos pediu desculpas dizendo que ele era um louco. Eu o fotografei um pouco depois usando um capacete vermelho e conversando com outro homem. Certamente alguém que não gosta de turistas. Lá em cima muitas lojas de souvenirs e eu só pensando na feirinha que tínhamos visto antes de chegarmos ao Danúbio. Não comprei nada, embora me sentisse tentada também a comprar um guarda-chuva.  Pensei melhor, na quantidade de coisa que eu esqueço, já havia perdido as luvas e tive que comprar novas em Praga que manchava toda minha mão (consequentemente o rosto também, e infalivelmente, o nariz, já que ficava gelado e toda hora eu passava a mão nele para aquecer um pouco) e um pouco porque o casaco que tinha elegido como curinga era impermeável. Havia me protegido muito bem. Acabei não comprando umas colheres de pau que tinha a matrioska esculpida no cabo. E não as encontrei mais.

O palácio/castelo é mais bonito visto de Peste ou do Danúbio,  mas a visão da cidade é belíssima. O Parlamento e a Basílica se sobressaem por sua imponência. A Cidadela conta histórias de medo e de bruxas que ali habitaram. O Bastião dos Pescadores guarda belas esculturas e os museus guardam as histórias da cidade, dos reis, das invasões, das revoluções. Hoje o castelo abriga o Museu da História de Budapeste e a Galeria Nacional Húngara. Tivemos sorte em presenciar uma troca de guardas e eu, particularmente, brinquei muito com um pitbull que insistia em buscar um pedaço de pau e me trazer para jogar de novo. Dócil como um poodle, atendia pelo nome de Bull.  Voltamos para Peste e pudemos comer o típico goulash servido dentro de um pão redondo. Antes passamos pela Basílica de Santo Estevão.


À noite, no hotel, recebo a notícia da morte de uma amiga de infância muito querida e isso me deixou extremamente abalada. Ainda teria o dia seguinte e eu estava especialmente triste.  A sorte é que o dia amanheceu de céu azul, sem chuva. Caminhávamos nas proximidades da Basílica à procura da  Av. Andrássy -  que faríamos à pé até a Praça dos Heróis -  quando  demos de frente outra vez com a mocinha do funicular vendendo o tour de ônibus e barco. Explicou-nos onde era a rua, mas acabou nos convencendo a comprar o tour. Foi ótimo. Poderíamos parar nos pontos turísticos, descer, fotografar, ficar o tempo que quiséssemos, e depois pegar outro ônibus. A cada meia hora parava um novo ônibus, além da vantagem de ter um áudio-guia em 23 idiomas, inclusive em português, que era o oitavo da lista. Nem preciso dizer que encontramos vários brasileiros fazendo o mesmo. Com isso o Café New York  e o Mercado Central ficou para a próxima vez, se houver.  O ticket incluía o tour noturno e o barco. Depois de completar a visita no lado Peste, fizemos o tour de barco. Almoçamos ali mesmo e fomos atendidos por um garçom húngaro que falava português. Voltamos e fizemos o tour noturno, revisitando todos os lugares e confirmando: Budapeste reluz como o ouro.




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