Rudolf von Alt - View of Budapest from Castle Hill at Museum of Fine Arts Budapest Hungary |
Amanhece frio em Budapeste. Venta muito e uma chuva
fina insistente ameaça cair a todo instante. Nem assim ficamos em casa, havia
muito o que explorar e nosso roteirista havia reservado um dia para Buda e
outro para Peste. Ainda não completamente invadida por turistas, a cidade é
fascinante e repleta de monumentos grandiosos. É bom conhecer um pouco de sua
história e, para não escrever o que alguém já fez com mais propriedade que eu
faria, vai aqui um site:
http://www.aproximaviagem.pt/n5/05_budapeste.html
Conhecendo, então a história de Budapeste e sabendo do sofrimento de seu povo com o nazismo e o comunismo a cidade tem o que mostrar. Começamos com nossa tradicional caminhada até a Ponte das Correntes para ir a Buda. Antes passaríamos pela praia onde foi construído o memorial em homenagem aos judeus assassinados pela milícia fascista Arrow Cross (Cruz de Flechas) durante a Segunda Guerra Mundial, quando Budapeste se aliou ao nazismo. Eles eram obrigados a retirarem os seus sapatos antes de serem executados com um tiro na nuca ou metralhados. Os corpos caiam sobre o Danúbio e eram levados pela correnteza. Mais conhecido como Monumento do Sapatos, o monumento “Os Sapatos às Margens do Danúbio” foi idealizado pelo diretor de cinema Can Togay e criado por ele e o escultor Gyula Pauer, que criou sessenta pares de sapatos em ferro, no estilo dos anos quarenta. Os sapatos foram fixados na pedra por cerca de 40 metros e numa base de 70 centímetros. Em três pontos existem placas com o seguinte texto: "Em memória as vítimas assassinadas no Danúbio pelos militantes da Cruz de Flecha no período de 1944 e 1945. Produzido em 16 de abril de 2005." Este memorial foi erigido num sábado e instituído como o dia de lembrança às vítimas do Holocausto na Hungria.
O frio intenso e o vento dolorido no rosto parecem ter ajudado
a aflorar minha sensibilidade. Chorei muito nesse dia e ainda mais porque
estava lá um grupo de turistas judeus prestando homenagem. Carregavam
flores que depois foram jogadas no Danúbio. Este é um Danúbio cinzento, que em
nada lembra a magnitude exaltada na valsa vienense. Ele também conta histórias
tristes.
A travessia pela Ponte das Correntes foi embaixo de
chuva. Mal pudemos vê-la nesse dia, mas no dia seguinte a vimos sobre vários
ângulos no tour de barco e de ônibus. Inclusive à noite. A Ponte é simplesmente
magnífica. Enfim, chegamos do outro lado
e pegamos o funicular para subir a colina. Um carro ameaça os pedestres e quase
pega minha cunhada. Aparece aí uma personagem que não anotei o nome, confiando
em minha memória, e chegando ao hotel já havia esquecido. Ela deu a maior
bronca no motorista e depois nos pediu desculpas dizendo que ele era um louco.
Eu o fotografei um pouco depois usando um capacete vermelho e conversando com
outro homem. Certamente alguém que não gosta de turistas. Lá em cima muitas
lojas de souvenirs e eu só pensando na feirinha que tínhamos visto antes de
chegarmos ao Danúbio. Não comprei nada, embora me sentisse tentada também a
comprar um guarda-chuva. Pensei melhor,
na quantidade de coisa que eu esqueço, já havia perdido as luvas e tive que
comprar novas em Praga que manchava toda minha mão (consequentemente o rosto também, e infalivelmente, o nariz, já que ficava gelado e toda hora eu passava a mão
nele para aquecer um pouco) e um pouco porque o casaco que tinha elegido como
curinga era impermeável. Havia me protegido muito bem. Acabei não comprando
umas colheres de pau que tinha a matrioska esculpida no cabo. E não as
encontrei mais.
O palácio/castelo é mais bonito visto de Peste ou do Danúbio, mas a visão da cidade é belíssima. O Parlamento e a Basílica se sobressaem por
sua imponência. A Cidadela conta histórias de medo e de bruxas que ali
habitaram. O Bastião dos Pescadores guarda belas esculturas e os museus guardam as histórias da cidade, dos reis, das invasões, das revoluções. Hoje o castelo abriga o Museu da História de Budapeste e a
Galeria Nacional Húngara. Tivemos sorte em presenciar uma troca de guardas e
eu, particularmente, brinquei muito com um pitbull que insistia em buscar um
pedaço de pau e me trazer para jogar de novo. Dócil como um poodle, atendia pelo
nome de Bull. Voltamos para Peste e
pudemos comer o típico goulash servido dentro de um pão redondo. Antes passamos pela
Basílica de Santo Estevão.
À noite, no hotel, recebo a notícia da morte de uma amiga de
infância muito querida e isso me deixou extremamente abalada. Ainda teria o dia
seguinte e eu estava especialmente triste.
A sorte é que o dia amanheceu de céu azul, sem chuva. Caminhávamos nas
proximidades da Basílica à procura da
Av. Andrássy - que faríamos à pé
até a Praça dos Heróis - quando demos de frente outra vez com a mocinha do
funicular vendendo o tour de ônibus e barco. Explicou-nos onde era a rua, mas
acabou nos convencendo a comprar o tour. Foi ótimo. Poderíamos parar nos pontos
turísticos, descer, fotografar, ficar o tempo que quiséssemos, e depois pegar
outro ônibus. A cada meia hora parava um novo ônibus, além da vantagem de ter um
áudio-guia em 23 idiomas, inclusive em português, que era o oitavo da lista.
Nem preciso dizer que encontramos vários brasileiros fazendo o mesmo. Com isso
o Café New York e o Mercado Central
ficou para a próxima vez, se houver. O
ticket incluía o tour noturno e o barco. Depois de completar a visita no lado
Peste, fizemos o tour de barco. Almoçamos ali mesmo e fomos atendidos por um
garçom húngaro que falava português. Voltamos e fizemos o tour noturno,
revisitando todos os lugares e confirmando: Budapeste reluz como o ouro.
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