Era uma vez, em um reino muito distante, uma camponesa, Maria, enfrentava suas primeiras dificuldades como mãe de um lindo garoto. Seu marido
saía para longas caçadas e ela tinha que aprender a se virar sozinha nos
afazeres domésticos, no cuidado com o filho e nas encomendas dos bordados.
Tecia com fios de ouro, sempre colocando em cada ponto traços de delicadeza, de
generosidade, de harmonia, de forma que, ao final, gostava de admirar sua obra,
como se arte fosse. E a vida era boa, o futuro lhe sorria, a esperança fazia
morada em sua casa.
Um dia, entretanto, durante uma das longas caçadas de João,
Maria amanhece doente, com tonturas, desmaios, vômitos, diarreia. Com bebê de
poucos meses, sozinha e isolada pensa em como fazer para pedir ajuda.
Arrasta-se então até à porta na expectativa de ver algum lavrador passar. Depois
de algum tempo passa um jovem que se dispõe a ir até o sítio vizinho pedir
ajuda. Assim fez, mas a ajuda não veio.
Printemps, de Maria Konstantinowna Bashkirtseff |
Está beirando o desespero quando ouve o trotar de cavalos.
Anima-se quando um dos soldados do rei apeia e vai ao seu encontro. Maria conta
seu drama, mas ele pouco ou nada pode fazer. Para espanto do soldado, mesmo
sendo uma camponesa, Maria pede para que avise seu tio, um nobre cavaleiro que
se tornou conselheiro do rei. O pelotão parte e seu tio não tarda a chegar. Com
o olhar agradecido Maria acompanha cada movimento dele no cuidado com seu
filho. Aquele homem forte, imponente, bonito, sabia, mais do que ninguém
traduzir em ações aquilo que não conseguia expressar em palavras, a despeito de
ser um grande orador. Naquele momento de cumplicidade o que explodia era
sentimento, era amor, era a ética do cuidado.
O nobre tio de Maria nasceu em uma pequena Aldeia, não
obstante sua origem humilde, soube transformar tudo que se apresentava a seus
olhos em livro eficaz. Seu caráter honrado, íntegro e honesto fez com que fosse
convocado para servir o Reino, onde prestou relevantes serviços. Foi
condecorado por isso. Na vida pessoal, este destemido guerreiro do tempo soube amadurecer
seus frutos e lançar suas sementes em terra fértil. No exercício da oração
aprendeu a criar uma passagem entre seu interior e o mundo que vivia, marcando
o ritmo de seus passos na construção da paz e da justiça.
O episódio mostrou a Maria a grandeza daquele homem que
equilibrava dentro de si sentimentos antagônicos como a razão e a emoção. Não
era perfeito, certamente, mas tinha a perfeição como meta. Foi um grande
pensador e dele Maria aprendeu a deixar o pensamento voar. As sucessivas batalhas que lutou, acabou o
tirando cedo demais do convívio deste mundo. A vida é um mistério, mas também é
uma dádiva tão grande, que o mínimo que se tem a fazer é vivê-la em sua
plenitude. Hoje ele faz aniversário em uma dimensão ainda desconhecida por nós.
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