terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O horizonte é de esperança!

(Maria Madalena, Georges de La Tour)

Estou sempre tentando explicar, mas parece que as palavras são impotentes, porque nunca queremos pensar de forma contrária aos nossos desejos e a seleção natural dos nossos pensamentos é guiada apenas pelo princípio do prazer. Não sou dona da verdade, mas posso garantir que busco por ela em todas as minhas ações e pensamentos. Não tenho comigo a mesma generosidade que tenho com os outros. Tenho um código rígido de ética e nem posso ter a certeza que isso é um impulso natural e espontâneo, porque estou em constante vigilância. Não nego as minhas sombras, não me escondo do espelho e fico realmente preocupada quando, no relacionamento com as pessoas, começo a identificar apenas o lado negativo. Penso que por não fazer de mim uma estranha, há uma energia à minha volta que atua como ímã, atraindo pessoas de polaridades opostas, mas de mesma natureza que eu.
Ninguém pode avaliar o meu contentamento ao me saber amada e com toda a sensibilidade que tenho, tenho especial cuidado com aqueles que me amam. Sei diferenciar o falso do verdadeiro, sei diferenciar o amor gratuito do interesseiro, porque vejo tudo por reflexos. Todo mundo que me conhece bem, sabe que Maria é uma personagem, ainda que tenha semelhanças comigo. Claro, a não ser que seja um texto acadêmico - retifico: mesmo nos textos acadêmicos - as nossas expressões, começam pela percepção que temos das coisas e situações. Primeiro percebemos, depois essas impressões são impregnadas pela nossa compreensão e pelas nossas experiências. Saem como novas, ou saem como se fossem nossas. Por isso aqui não escrevo verdades absolutas. Até para rezar eu uso a expressão: “Deus do meu coração, Deus da minha compreensão”...
Apesar de todo cuidado, infalivelmente, as pessoas confundem Maria comigo. Ficção e realidade se misturam com o único desejo de proporcionar aos que me lêem um encontro consigo mesmo, momentos que facilitam a reflexão. Cada um que se encontra comigo de forma profunda, dá a sua contribuição para Maria. Cada um que me contesta com argumentos verdadeiros contribui para a construção de Maria. E isso sou eu também, mas é você, é ela, a outra, nós e eles. Como todo mundo, ela e eu queremos ser amadas. Agradecemos o amor. Diferente em tudo do sexo. Aceito os amores, mas sexo, ainda está em departamento reservado. Entretanto, Maria pode falar de sexo, fazer sexo, experimentar novidades no sexo, Maria não tem limites, não precisa ser coerente, pode ser uma personagem diferente em cada conto. Observem em “Maria e o tempo” e “Um encontro com o tempo”. As posturas são bem diferentes. O conteúdo é bem diferente.
Blog novo, um desejo interno de mudança, mas lá no fundo, a vontade de escrever sufocada pela atividade do dia a dia, que embora seja uma escrita constante, não abre espaço para a ficção. Com a mudança no ar, mas ainda ligada à Maria - a primeira nascida nos Segredos de Deméter -, embora mais crescida e madura, penso em abrir um pouco mais esse universo pessoal. Uma Maria mais atrevida, que deixa sua sensualidade vir à tona, supera a natural impaciência pela falta de surpresas. O olhar treinado para perscrutar almas mostram, a nós duas, que só podemos esperar por novas experiências se estivermos abertas a elas. Não sou mais anônima como no Segredos de Deméter. Tenho um rosto, um nome, um endereço conhecido. Aposto naquilo que conheço e a primeira atitude concreta é assumir cada palavra, cada pensamento, cada ato aqui registrado. Deixo para trás a timidez, mas vou continuar contando histórias.
Maria, definitivamente, não é uma pessoa, é o sentimento de todas as mulheres que pode ser encontrado nas mães, nas amantes, nas esposas, nas namoradas, nas trabalhadoras, nas prostitutas, nas homossexuais, nas executivas. O conflito interior, aos poucos, encontra o seu caminho. Nesta nova fase, é bem possível que o universo masculino também seja explorado pelo olhar de Maria. Essa lógica fria, calculista, que se contrapõe ao mundo moderno, no qual o homem está sendo chamado a mostrar um outro lado, mais sensível, mais intuitivo, mais emocional.
As gavetinhas cartesianas serão misturadas e as palavras certas hão de brotar. Todas as portas fechadas hão de se abrir. Caminho, ainda ruborizada, mas com rosto alegre, ardendo de amor. Sou envelhescente e esta é uma fase nova para mim. Velhice honrada não se mede pelo número de anos, nem pela quantidade de cabelos brancos, mas pela sabedoria que se acumula das lições que se aprende.

2 comentários:

  1. Elianemaria Almeida no Facebook:

    Então! Maria faz sexo´só por fazer e não por mero prazer, é mais uma Maria entre tantas Marias de um Brasil entre tantos Brasis, é só mais uma personagem interpretando desejos de outras Marias que ali se esconde por detrás dela?

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  2. Sexo ainda é apenas uma parte da Maria... ela é bem mais profunda! Maria tem vida própria, mas é uma personagem mesmo. Não se esconde... ela é!

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