Maria é mulher, fala de vida, de experiência, de sentimentos, de sexo, de lições e apreendizado, um universo identificado por qualquer mulher (e até mesmo homem). Ela sou eu, a outra, todas elas, qualquer mulher, uma mulher qualquer. É a mãe, a dona de casa, a profissional, a prostituta, a religiosa, a vencedora, a fracassada, a lutadora, a cansada, a jovem, a velha, a sábia, a louca. Não é Maria por acaso.
domingo, 12 de dezembro de 2010
Uma carta de amor
"Accusa Segreta", Francesco Hayes
Meu querido João,
Foi muito bom tê-lo encontrado. Não existem motivos para que deixemos acabar a nossa história que, na realidade, não precisa ter um fim. Talvez, do jeito que foi escrita, sem toques, sem os desgastes da rotina, sem a dureza da realidade, ele permanece como um templo e resiste à impiedade do tempo. Demorei para conseguir dormir, refiz todas as etapas do nosso encontro, “re-ouvi” todas as nossas palavras e, como sempre, o essencial se manteve à espreita, sem coragem de se mostrar de frente. É, para mim é muito mais fácil escrever do que falar. Até porque escrever é um diálogo mudo, contracenamos com uma cadeira vazia e as respostas quase sempre são ditadas pelo nosso desejo. Enfim, minha alma se nutre de sonhos e hoje eu sou mais alma do que corpo, portanto, minhas necessidades são mais sutis, mais etéreas.
Foram muitos os momentos surpreendentes.
Na realidade eu não me lembro se lhe disse alguma vez “eu te amo”, talvez pelo meu jeito esquisito, talvez, por conviver com palavras, não querer desvalorizar aquelas que representariam meu sentimento máximo. Não importa o motivo, sempre achei que você, inteligente como é, percebia, sabia, sentia. Sempre lhe dei garantias do meu amor com as minhas atitudes. Nunca agi com ninguém como ajo com você. Nunca fui tão receptiva, tão pacífica. Dê um desconto para a época em que nos conhecemos. Eu era menina, inexperiente e morria de ciúmes de você, além de ter pouca estrutura para enfrentar os nossos impedimentos.
Pois bem, hoje,com mais idade, não tenho porque esconder o que sinto. Busquei no arquivo da memória as nossas correspondências.Só eu escrevia. Recebi uma única carta. Como você é burro! Nunca percebeu que sempre estive nas suas mãos?
Desculpe-me o mau jeito, mas sou assim mesmo. De uma franqueza que não pode ser deixada por conta da espontaneidade. Tudo isso só para dizer que eu amo você, e o amo tanto que aprendi a dividi-lo com o mundo, com seu trabalho, com sua congregação, com suas aventuras e seus outros amores. Toquei a vida pra frente sem nunca perder a expectativa, mas o perdi de vista. Acho mesmo que chegou até aqui porque eu nunca quis que morresse. Você também tocou a sua vida para frente, fez suas escolhas até mesmo quando não escolhia nada. Muitos e muitos anos depois, ainda estamos nos olhando, sem coragem de romper com o passado, sem coragem de encarar o futuro, cada vez mais limitado pelo tempo. Vivemos momentos diferentes, mas eu ainda o amo. Sempre o amei.
A maturidade transforma o amor. Da menina ciumenta que não suportou a pressão, surgiu a mulher que contava os dias com serenidade, que aprendia, com a vida, a sublimar o amor. Descobri que eram as lacunas que alimentavam minha literatura. Amor, encantamento, ideal, são sentimentos que podem unir por um determinado tempo as pessoas, mas não foi suficiente para nós.O encantamento acabou cedo demais. Antes de ser. O tempo passo e mudamos nós dois. Mudar significa entrar em um campo desconhecido e tudo que não podemos prever nos causa medo, não sabemos como lidar com o inesperado e parece que não entendemos nunca que as mudanças acontecem, apesar de nós.
Assim, João, estão aqui as minhas respostas, as conclusões que chequei ao me confrontar no espelho tendo apenas a mim mesma como debatedora. Não sei as suas respostas, mas o ser humano é encantador, imprevisível, surpreendente e não há o que se rotular como bem ou mal, bom ou ruim. João, onde está você? Serei sempre feliz pelo privilégio de o ter conhecido um dia.
Todo meu amor
Maria
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Pôxa, essa carta é bem genérica, kkkk
ResponderExcluirPode copiar...kkk
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