segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A travessia

Soledad, de Ricardo Fernandez Ortega
Desde que resolvera atravessar o grande rio, Maria experimenta estranhas sensações. Às vezes sente medo, mas não de chegar à outra margem e, sim,  da travessia. Outras vezes, enche-se de coragem por perceber que melhor que a chegada é o caminho que terá que percorrer.  Deixa-se, então, navegar nas águas profundas com a certeza que, mesmo à deriva por um tempo, chegará ao seu destino. Seria tão simples se tivesse uma bússola, mas ela tem apenas a si própria para se guiar,  e sua bússola é somente a percepção que tem de si mesma. Por isso se perde algumas vezes, mas sempre reencontra sua rota.

Na noite escura da alma a possibilidade de ser intensa e generosa se amplia, porque é do escuro que se visualiza a luz.  Ela gosta da luz, da claridade que permite ver a beleza e harmonia que existe no mundo, independente de guerras, tragédias, crises políticas, sociais ou econômicas. Ela não é omissa, mas precisa de momentos para ser apenas uma vivente enamorada das belezas cósmicas. Ela vai sim atravessar o grande rio, mas antes Maria se permite sentir-se plena, feliz, em paz profunda!

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