quarta-feira, 20 de agosto de 2014

No fundo do poço

Solidão, de Mitra Shadfar
Desde a visita à Isabel, Maria se sente incomodada, triste, preocupada. Até então tudo parecia claro, resolvido, até que ela se vê no fundo do poço. Está completamente só. Sem família, sem amigos, apenas os contatos holísticos e distantes. Não sabe dizer quando sua convicção virara paranoia. Havia se transformado em uma visionária das trevas. Na mesa de sacrifício era apenas uma criança de dois anos que se entregava a seu carrasco.
Fico pensando na hipocrisia que envolve alguns líderes, religioso ou político, incompatíveis na maneira de discursar e agir. Incoerência que faz levantar bandeira ambientalista, mas comer carne; ser militante sindical e manter a doméstica sem carteira assinada; pregar o Evangelho e discriminar o homossexual; defender a igualdade e tratar as pessoas de modo vertical – sentindo-se superior.  Valores que também traduzem preconceito.
Neste momento, ao avaliar os sentimentos de Maria, tudo que não quero é ser preconceituosa. O ser humano é naturalmente egoísta. Encontra argumento e justifica todas suas atitudes, desde que consiga se beneficiar de alguma forma. Entretanto, isso não quer dizer que ele não possa ser melhor.  Paz, liberdade, plenitude, felicidade, amor, são princípios considerados universais e fazem parte da vida do homem –  como cidadão, pessoa e profissional – que luta para mantê-los inabalados, mas a virtude é um atributo da alma. E quem não cultiva a virtude, termina escravizado.

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