Nayade, de Fantin-Latour |
O corpo desidratado pedia água e Maria, mesmo sem
consciência, sentia que mergulhava fundo. Os sons iam ficando para trás, apenas
a sensação de liberdade que substituía o mal -estar anterior. A água lhe
abraçava. As vezes sentia frio, outras ela lhe era morna, lhe acolhia. Era como
se lhe pedisse para ficar. E Maria queria ficar. É como se mundos se mesclassem
em unidade e as coisas do corpo e da alma ficassem mais claras, sem mistérios.
É engraçado que naquelas águas acolhedoras, calmas, também se podia perceber a
existência de correntezas. Não são correntezas fortes, mas são atraentes, têm
luminosidades diferentes, como se a gente pudesse escolher ou simplesmente se
deixar levar. Maria se entrega por alguns instantes e é como se abrissem portas
internas e ela fosse envolvida por massagens e bálsamos que curavam suas
feridas. Imagens e sons que prefere guardar em sua memória para não entregar às
contradições humanas. É um estado de alma tão simples, que custa a acreditar
que sempre esteve à sua disposição. Emergir é encontrar novos olhares.
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