quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Vozes do silêncio

Leonid Afremov


Ah! Esse clima gostoso - de chuva fina, de periquitos alvoroçados, de ruídos distantes, de silêncio de palavra - transporta Maria para seu mundo secreto, penetrável e habitado unicamente por ela. A eterna contradição de quanto mais dentro de si fica, mais se integra ao Universo e aprofunda sua sensação de pertencimento. Ali os habitantes são outros, as vozes lhe chegam sem som. Gilberto Gil já cantou: “Se eu quiser falar com Deus, tenho que subir aos céus, tenho que calar a voz”. Em dias de sensibilidade aguçada, amplia-se a possibilidade de ser intensa, generosa, e a sensação de liberdade abre os horizontes. É permitido se sentir plena, feliz, em paz profunda!
Manhãs de chuva e vento frio, aumentam essa sensibilidade em Maria. Gosta da luz, da claridade que ilumina a caminhada interna. Nem sempre é na penumbra ou no isolamento que as reflexões ocorrem. Hoje, em especial, é na convivência íntima com a natureza que a cerca. Há apenas o ser vivente, enamorado das belezas proporcionadas por uma energia cósmica, inimaginável quando se segura o foco no mundo concreto. Tudo e nada se confundem. Impelida pela angústia Maria busca a solidão que lhe permita encontrar argumentos para sua existência.

Não foi fácil sentar para escrever. Trazer os pensamentos do nada para o vazio das letras. Sentir a pressão do tempo fatiado nos ponteiros do relógio. Olha-se no espelho. Quando amanhece num dia chuvoso, de estonteante claridade, está, de certa forma refletindo o que tem na alma. O dia favorece os voos platônicos, mas o espelho permite retê-los. Entre o ideal e a realidade fica o sentimento de que a solidão não é só dela, é humana. Harmonizada com a consciência universal, não está sozinha. Sem delírio ou fanatismo, Maria quer saber se você a acompanha, a não andar, a não falar, a não ter o que trocar a não ser o silêncio.

2 comentários:

  1. Quero ler tudo que perdi. Mas vou a doses lentas para não perder a essência!

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  2. Você... me faz até sentir que tenho alguma importância!!! Saudade!

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