Leonid Afremov |
Ah! Esse clima gostoso - de chuva fina, de periquitos
alvoroçados, de ruídos distantes, de silêncio de palavra - transporta Maria
para seu mundo secreto, penetrável e habitado unicamente por ela. A eterna
contradição de quanto mais dentro de si fica, mais se integra ao Universo e
aprofunda sua sensação de pertencimento. Ali os habitantes são outros, as vozes
lhe chegam sem som. Gilberto Gil já cantou: “Se eu quiser falar com Deus, tenho
que subir aos céus, tenho que calar a voz”. Em dias de sensibilidade aguçada,
amplia-se a possibilidade de ser intensa, generosa, e a sensação de liberdade
abre os horizontes. É permitido se sentir plena, feliz, em paz profunda!
Manhãs de chuva e vento frio, aumentam essa sensibilidade em
Maria. Gosta da luz, da claridade que ilumina a caminhada interna. Nem sempre é
na penumbra ou no isolamento que as reflexões ocorrem. Hoje, em especial, é na
convivência íntima com a natureza que a cerca. Há apenas o ser vivente,
enamorado das belezas proporcionadas por uma energia cósmica, inimaginável
quando se segura o foco no mundo concreto. Tudo e nada se confundem. Impelida
pela angústia Maria busca a solidão que lhe permita encontrar argumentos para
sua existência.
Não foi fácil sentar para escrever. Trazer os pensamentos do
nada para o vazio das letras. Sentir a pressão do tempo fatiado nos ponteiros
do relógio. Olha-se no espelho. Quando amanhece num dia chuvoso, de estonteante
claridade, está, de certa forma refletindo o que tem na alma. O dia favorece os
voos platônicos, mas o espelho permite retê-los. Entre o ideal e a realidade
fica o sentimento de que a solidão não é só dela, é humana. Harmonizada com a
consciência universal, não está sozinha. Sem delírio ou fanatismo, Maria quer
saber se você a acompanha, a não andar, a não falar, a não ter o que trocar a
não ser o silêncio.
Quero ler tudo que perdi. Mas vou a doses lentas para não perder a essência!
ResponderExcluirVocê... me faz até sentir que tenho alguma importância!!! Saudade!
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