Maria se emociona ao ver aquela paisagem pela primeira vez.
Tudo lhe parece familiar, afinal passara parte de sua vida tendo a fantasia
como ferramenta de trabalho e, naquele instante, o que lhe vem à mente é o mito
quixotesco que permeou sua literatura. Lutou sim com enormes e cruéis gigantes
que, ao final, se transformaram em moinhos de vento, só mesmo para lhe roubar a
glória da vitória. E como Quixote, sua luta sempre foi solitária. Arremessou-se
sozinha contra todos. Ganhou batalhas em números idênticos às que foi
derrotada. Tornou-se mestra em oximoros, em aproximar sentimentos antagônicos,
em rir da dor e chorar de alegria. Apostou suas fichas na vizinhança do
impossível. Mas viu moinhos se transformarem em gigantes e era isso o que importava.
Se a luta contra moinhos de ventos é o paradigma da luta
inútil, Maria, finalmente, encontrava seu caminho e assumia sua fantasia. Qual
era sua alucinação naquele momento? O medo de viver ou de morrer? Entendia
profundamente a ficção e a realidade, mas a ela não importava a inutilidade,
desde que a entendesse como necessária para seu desejo e, portanto, necessária
para o mundo. De suas fantasias alicerçou a ponte para a realidade e pavimentou a realidade com fantasia. A vida lhe pareceu mais suportável. Naquele momento Maria não apenas realizava uma de suas inúmeras viagens imaginárias e fantásticas, também pincelava de realidade o que um dia não passou de alucinação.
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