Springs, de Henri Houben |
A mudança está no ar, Maria não sabe o que a espera pela frente.
Mais crescida e madura, reluta em abrir seu universo pessoal. Não há
nada de novo sobre a Terra e o que Maria pode esperar é por experiências que
lhe mostrem outros aspectos da vida que está aí, desde que o mundo é mundo.
Está tudo aí. Ela só precisa ver, mas não sabe o quê. Há um certo cansaço em
suas palavras, uma certa impaciência pela falta de surpresas. Seu coração está
endurecido como uma pedra. Questiona tudo, Deus, trabalho, sentimentos,
valores.
Bem, não sei qual é o rumo que Maria vai tomar, mas eu vou
continuar contando histórias. Minhas Marias, personagens reais ou fictícias,
sempre passam mesmo pela minha observação e compreensão. Neste sentido, o
horizonte é de esperança. Assim como
Jeconias, rei de Judá, quando foi anistiado pelo rei da Babilônia, espero que
Maria tire parte das suas roupas de prisioneira para tentar alçar novos voos. Ela envelhece antes de mim. Vai sempre na
frente em suas experiências e agora que é legalmente idosa mistura mais uma vez
suas gavetinhas cartesianas em busca de novas combinações para uma velhice
honrada. Todas as portas fechadas hão de se abrir. Caminha ainda ruborizada,
mas com rosto alegre, enquanto eu, a seu lado, observo cada detalhe de sua
transformação para traduzir em palavras. Nada fácil observar o essencial e
traduzir a essência, mesmo com o olhar treinado para perscrutar almas humanas.