quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Uma mulher má


  Dissent, de Juan Medina






Maria era uma mulher muito má. Ao remexer o baú de suas memórias entendeu que precisava se reescrever para poder se ler. Colocou-se então a fazer isso. Quanta sujeira! Ela descobriu que em sua vida só encontrara pessoas altruístas, amorosas, cheias de sabedoria e dedicação disponibilizadas em benefício da humanidade. Só ela, apenas ela, olhava-se no espelho e se via assim: humana, medrosa, dissimulada, fracassada. Uma verdadeira pecadora que certamente merecia a ira dos céus. Maria era mesmo muito má, tinha ouvidos aguçados, olhos abertos e língua afiada. Mas era bem pior, pensava também. Morreu em silêncio, afinal, não valia a pena falar o que percebia.



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