quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Não adianta quebrar o espelho

Gerard Terborch (Dutch Baroque Era Painter, 1617-1681) "Woman at a Mirror"
Chove lá fora. A vontade de Maria  é sair,  tomar um banho de chuva,  e assim lavar a alma e esconder as lágrimas que insistem em molhar seu rosto de um paladar salgado.
Dentro dela, só não há vazio porque existe dor. A dor é visceral, assim como se uma garra entrasse e extirpasse todos seus órgãos. Que está doendo, qualquer um pode notar.  Fico imaginando quanto mais dolorido seria se a situação se arrastasse por mais tempo, sem saber se seria feliz por estar perto dele, ou se seria infeliz por não conseguir se afastar.
Aos poucos percebi que Maria  ocupava espaços deixados vazios, era sempre amiga, sacerdotisa, anjo da guarda, portadora do archote - aquela que leva luz - mas nunca foi ela mesma. Por isso chora. Tudo nela dói: a cabeça, as pernas, a barriga, a alma. Não é a fortaleza que todo mundo espera . Quer ter o privilégio da imperfeição, quer a liberdade de poder se expressar diante de qualquer plateia, quer o retorno por ter passado sua vida procurando andar em ângulos retos, se equilibrando entre a bondade e maldade: "Estou brigando comigo mesma, procurando me encarar no espelho e,  perfeitamente consciente de que não adianta quebrá-lo, porque é o meu rosto que precisa mudar”.

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