
Quando aprendi a dirigir eu interpretava certos desarranjos no trânsito como resultado da arrogância da ditadura militar. Parecia que as pessoas transpunham para o veículo toda a sua raiva, seus complexos, seus problemas pessoais. Lembro-me até de uma campanha: "Não faça do seu carro uma arma, a vítima pode ser você".
A ditadura acabou, novos motoristas assumiram seus postos, mas a falta de educação no trânsito continua a mesma. Mulheres estressadinhas que colocam a mão na buzina, como se ela (a buzina) fosse seu próprio grito histérico. Homens poderosos que não se contentam em ter um carro possante, precisam mostrar a potência do carro. Isso quando não despejam uma cusparada de cima de suas caminhonetes.
Quando na década de 70 a crise do petróleo atingiu o Brasil uma coisa pelo menos mudou: a arrancada. Por medo de queimar muito combustível o pessoal parece que aprendeu a sair mais vagarosamente, mas tão vagarosamente que hoje um estudo da Cefet mostrou que o goianiense leva mais de 30 segundos para tomar consciência de que o sinal abriu... a diferença ele vai tentar recuperar passando por cima de quem está na frente.
Com o automóvel servindo como extensão do homem, qualquer arranhadinho na pintura é como se fosse um tremendo machucado na honra das pessoas. A pressa é logo esquecida e inicia-se um processo que nunca dá em nada para saber quem paga o prejuízo. Já vi muita senhora de fino trato, mandar o outro passar a língua na lataria para apagar o arranhão. Assim vai meu Estado acelerando, e nos sinaleiros, meus queridos motoristas, enquanto esperam, enfiam o dedo no nariz e ficam a fazer bolinha, como a Britney Spears na foto que ilustra este post.
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