Não sou mais uma boa motorista, mas já fui. Acho que já fui, porque
por muitas vezes ouvi as pessoas dizerem que eu "dirigia como um homem".
Eita preconceito besta esse tal de machismo! À parte a guerra dos sexos, ainda estou por entender qual é a lógica
que orienta os motoristas goianos (ou seriam os brasileiros, ou ainda,
seriam os humanos?) para transformar as largas avenidas da cidade em
pistas de competição. Não basta correr, passar na frente, é necessário
atrapalhar os outros, ultrapassar pela direita, segurar a fila até ver
que o sinal vai abril e só então acelerar e deixar todo mundo pra trás.
Se quiser trocar de faixa a dica é não dar sinal. Todo mundo entende
quando você simplesmente fecha o outro condutor e, este, pacientemente
(ou não), reduz a velocidade para você passar, mas se você liga a seta é
como se acendesse um sinal convidando para a disputa. Quem está atrás,
acelera e não deixa mesmo passar.
Quando aprendi a dirigir eu interpretava certos desarranjos no
trânsito como resultado da arrogância da ditadura militar. Parecia que
as pessoas transpunham para o veículo toda a sua raiva, seus complexos,
seus problemas pessoais. Lembro-me até de uma campanha: "Não faça do
seu carro uma arma, a vítima pode ser você".
A ditadura acabou, novos motoristas assumiram seus postos, mas a
falta de educação no trânsito continua a mesma. Mulheres estressadinhas
que colocam a mão na buzina, como se ela (a buzina) fosse seu próprio
grito histérico. Homens poderosos que não se contentam em ter um carro
possante, precisam mostrar a potência do carro. Isso quando não despejam
uma cusparada de cima de suas caminhonetes.
Quando na década de 70 a crise do petróleo atingiu o Brasil uma
coisa pelo menos mudou: a arrancada. Por medo de queimar muito
combustível o pessoal parece que aprendeu a sair mais vagarosamente, mas
tão vagarosamente que hoje um estudo da Cefet mostrou que o goianiense
leva mais de 30 segundos para tomar consciência de que o sinal abriu... a
diferença ele vai tentar recuperar passando por cima de quem está na
frente.
Com o automóvel servindo como extensão do homem, qualquer arranhadinho na pintura é como se fosse um tremendo machucado na honra das pessoas. A pressa é logo esquecida e inicia-se um processo que nunca dá em nada para saber quem paga o prejuízo. Já vi muita senhora de fino trato, mandar o outro passar a língua na lataria para apagar o arranhão. Assim vai meu Estado acelerando, e nos sinaleiros, meus queridos motoristas, enquanto esperam, enfiam o dedo no nariz e ficam a fazer bolinha, como a Britney Spears na foto que ilustra este post.