segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Carta de Maria

Imagem: Penning A Letter, de George Goodwin Kilburne
Hoje tive vontade de escrever de mim para mim. De buscar no próprio âmago explicações para esta existência. Não sei se a vida é um circo de horrores, mas os ciclos são visíveis. Dias, meses e anos marcados por ganhos e perdas, altos e baixos, dias de entusiasmo e euforia, dias de amargura e depressão, dias de trabalho intenso e de desemprego. Sobrevivo.
Estou de bem comigo, mas tenho tido pouca vontade de escrever. E quando consigo vencer a minha barreira, surpreendo-me completamente muda. É a felicidade (ou seria a ausência de infelicidade?) que me bloqueia? Ou seria a sensação de me sentir espectadora da vida, quando nada mais é novidade, quando o ser humano perdeu, para mim, o gosto da descoberta?
Os grandes romances, os melhores poemas de amor parecem mesmo se nutrir da tragédia, dos desencontros, da infelicidade. Pior que a ilusão que nutre minha pobre literatura, é a apatia em viver. É não saber o que é necessário para ser feliz. É a certeza de que tudo o que existir depois da vida será lucro, porque, aqui e agora, tempo e espaço limitam meu ser. Pior que esta inadequação é me ver frente a frente com a repetição dos ciclos. É não ter criatividade suficiente para me superar cada vez que no jogo da vida dá a lógica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário