The Marienplatz in Munich, 1853, oil on canvas by Anton Doll, 1826-1887, German landscape artist and representative of the Munich School. |
A viagem de Graz para Munique foi linda e cheia de imprevistos. Seguíamos de trem pelos Alpes e em determinado momento, um impedimento que não ficamos sabendo exatamente o que era, mas que impossibilitava a passagem do trem, nos fez voltar para pegar um ônibus e terminar a viagem, até à estação onde trocaríamos de trem. Isso fez com que passássemos ainda mais perto das montanhas e pudéssemos encher os olhos com a paisagem de neve
. É um espetáculo lindo! Chego em Munique sem qualquer expectativa a não ser a ida
para Dachau. Com o bombardeio de informações que nos chegam, precisamos cada
vez mais, apurar o nosso discernimento e o holocausto estava em meus projetos
de conhecimento da verdade. Havia informações duais na internet. Mas Dachau é
rapidamente esquecida para curtir e saborear a primavera alemã, naquela parte
que um dia foi da Bavária. A cidade repetia o que tinha visto em Graz. Parecia
que todo mundo estava na rua. Antes de chegar à Marienplatz, uma pracinha de
pedras reunia jovens tomando sol e ouvindo música. Aliás, música ali também
estava em toda parte. A alegria estava estampada nos rostos de cada transeunte
e de forma contagiante. A primeira coisa que observei é que tinha gente do
mundo inteiro. Um laboratório de raças. Foi o lugar que mais vi mulheres de
burca e homens com aquele paninho na cabeça. Loiros, brancos,
morenos, negros, altos, baixos, negros altos e loiros baixos, e muita gente com o
uniforme do Bayern. Era sábado... o time devia estar jogando. Enfim,
gente de todo tipo. E à primeira vista, gente feliz!Fomos almoçar em um horário estranho, mas a comida era farta e gostosa. Acabamos adotando esse restaurante para as refeições dos dias seguintes. Só não deu para engolir mesmo o que eles chamavam de “bolette de pomme de terre” no cardápio em francês e “gnhoc di patata” no cardápio em italiano. Parecia uma bola de grude e nem passava perto daquilo que conhecemos como nhoc. Mas a carne e a salada estavam excelentes e o repolho roxo tinha um tempero especial, muito gostoso mesmo. Nesse primeiro dia apenas passeamos pela Marienplatz e fomos até à Prefeitura. Tivemos que dar uma corridinha no hotel para agasalharmos melhor, pois à medida que escurecia, também esfriava. Com isso, ficamos até à noite andando por ali.
Munique, Karl Walther (1905) |
Eu estava muito encantada com o impacto que a primavera tem nessa parte do mundo. As vitrines eram espetaculares, decoradas como fazemos no natal, sempre com o tema primaveril, com flores, borboletas e muitas luzes. Munique foi a cidade do consumo! Com tanta informação chegando por todo lado, com tanta coisa diferente para ver, para pensar, a gente fica meio entorpecida. Imaginava que em viagem eu ficaria mais detalhista, mais atenta, mais esclarecida. Ledo engano. Era muita informação para processar imediatamente. Com certeza, este texto está saindo bem diferente do que teria escrito no mesmo dia. O mundo não é igual para todo mundo, mesmo que todos tivessem as mesmas oportunidades, simplesmente porque o nosso crivo pessoal passa pelas nossas experiências e não pela nossa educação formal. Infelizmente não existe uma técnica com garantia científica, mas certamente podemos contar com nosso olhar sem preconceito e as nossas experiências individuais para nos orientar em relação à mensagem que recebemos.
O domingo passamos em Dachau - conto a experiência em outro post – e à noite jantamos em um restaurante diferente e comemos o que seria nossa “jantinha de rua”: arroz, salada, batata frita e espetinho. Demorou para ser servido, mas valeu a pena. O arroz fica bem diferente do nosso, rs! E na segunda-feira fomos desbravar Munique, estava chegando o final de nosso estirão. De Munique iríamos para Luxemburgo e separaríamos o grupo. Marcelo e Adélia iriam para Holanda e nós para a França. Caminhamos bastante nesse dia, fomos a lugares belíssimos e vimos muita coisa bonita. Paramos um tempo em um parque para ficar apenas olhando a movimentação das pessoas. Bem pertinho um casal de brasileiros com duas crianças, visivelmente moradores da cidade. Esses eu não perturbei. Toda vez que me encontrava com brasileiros fazendo turismo eu perguntava se no Estado deles não tinha crise. Eu me divertia com isso, principalmente com as respostas e justificativas.
Em Munique eu aprendi uma outra linguagem: a da mímica, além de que foi lá que consegui a façanha de me tornar consumista. Ali sim, vi coisas baratas e me deu vontade de comprar, acabei me esbaldando em uma perfumaria, sem falar uma só palavra em alemão e as vendedoras sem falar nenhuma palavra em português, francês, italiano ou inglês. Estávamos a Adélia, Cleuza e eu, os meninos tinham ficado o hotel, e cada uma de nós se virava em uma língua, mas não em alemão. Ainda assim compramos, fizemos o tax free, saímos com todos os documentos em ordem e ainda ganhamos brindes. Bendita compra! Em Paris os preços estavam bem mais altos. Antes de viajar a Elisa havia feito uma tomada de preço em real dos perfumes que queria e no aeroporto em São Paulo, no Dutty Free, eu peguei os preços em dólar, então ficou fácil fazer uma comparação com o euro e ver que ali o preço era vantajoso. E muito vantajoso.
Enfim Munique quebrava de forma definitiva tudo o que eu
pensava a respeito dos alemães. Nada em
Munique lembrava as fotos que tinha visto da segunda guerra e que transformara
a cidade em escritório político de Hittler. A cidade reconstruída esbanjava
beleza e alegria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário