quinta-feira, 11 de junho de 2015

Luxemburgo com gosto de despedida!

Luxemburg night, bu Leonid Afremov 
De Munique a Luxemburgo a viagem começa a ter gosto de despedida. Chegamos então ao paraíso fiscal, um minúsculo país incrustado no meio da Europa. Acho que foi uma das gares mais bonitas por onde passamos e a noite ficava toda dourada com a iluminação. Em compensação o hotel deixou a desejar. Durante a nossa viagem ficamos, na maioria, em hotéis Mercure e Ibis (verde e azul), mas em Luxemburgo ficamos em um Ibis vermelho. Localizado próximo à gare, embora as acomodações fossem boas e dentro do hotel o ambiente bem familiar, o lado de fora nos pareceu estranho, mas nada que pudesse representar problema. Deu para encarar.


Em Luxemburgo comecei a me sentir mais em casa, depois de bom tempo ouvindo línguas estranhíssimas como o tcheco, o húngaro e o alemão, na cidade se falava o francês, ouvia-se muito português (cerca de 16% da população é portuguesa) e eu podia ler as placas de informação e cardápios. A passagem por Luxemburgo seria rápida e não perdemos tempo. Deixamos as malas no hotel e saímos para passear. O tempo era pouco então tivemos que selecionar o que queríamos ver. Passeamos pela cidade, fomos ao parque, ao Palácio Grão Ducal, Catedral, e paramos para almoçar na Place D’Armes. A praça é cercada de cafés e restaurantes, todos com os chamados terraços (mesinhas nas calçadas e opções de serviço dentro e fora do estabelecimento já em pleno funcionamento nesse terço inicial da primavera). E como em toda cidade europeia, muitas floreiras, muita variedade de tulipa. Um lugar muito agradável. No coreto central acontecem as atividades culturais, com concertos durante todas as noites de verão.   Não era bem horário de almoço, estava mais pra happy hour, ainda assim comemos muito bem e fizemos o retorno para o hotel sob as luzes noturnas da cidade, mas pudemos apreciar ainda alguns monumentos e a ponte sentindo o friozinho gostoso. Luxemburgo é bonita e tem algumas características que a tornam diferente. Em meio às construções centenárias é sempre possível encontrar uma com arquitetura moderna, abusando de vidros, formas arredondadas e muita iluminação. Luxemburgo é muito muito. 

Era nosso último dia do grupo dos cinco. E eu fui invadida por grande tristeza. Durante esses primeiros quinze dias aprendi a conhecer melhor meus companheiros de viagem, não meu irmão e cunhada, esses já convivo com eles há muito tempo, mas, em especial, Adélia e Marcelo. Durante esses dias ganhei mais dois irmãos no sentido exato da palavra, que também me chamavam de Maninha, se preocupavam comigo em detalhes que só mesmo eu percebia a importância. É claro, são amigos do Dedé, o carinho a mim dispensado de certa forma era reflexo daquela amizade, mas nem por isso menos importante. O carinho não está incluído no quesito educação, certo? Isso é um extra a que dou grande valor.  Não saí para essa viagem em meus melhores dias. Meu coração ainda chorava a dor da perda do papai. Ficava ansiosa para ter notícias de minha mãe que, sem dúvida, enfrentava no momento, além da perda, a minha ausência.

Minha tristeza se dissipava perto da Adélia.  À exceção do domingo em Dachau, ela estava sempre alegre, cheia de entusiasmo, com olhar vivo e curioso sobre tudo. Não foi à toa que a elegi “miss simpatia” da viagem. Foi também minha modelo preferida. Bastava chamar e ela já virava sorridente, pronta para a foto. Marcelo com sua aparência de monge indiano transmite sempre serenidade e junto com seu estilo está um olhar observador. Sempre ponderado com as palavras. Muitas são as “acontecências” durante as viagens, mas destaco uma aqui, para ilustrar essa imagem que descrevi do Marcelo: no metrô em Viena entrou um menino de mais ou menos 6/7 anos com o pai e ao ver o Marcelo juntou as mãozinhas e lhe fez reverência. Brincadeira ou não é essa imagem que ele passa. Aproveito este post para agradecer aos meus novos irmãos Marcelo e Adélia pela companhia extraordinária.

Contei no post de Berlim como fiquei constrangida com a abordagem do segurança do supermercado, mas como venho dizendo ao longo desses posts-relatórios de viagem, há sempre tanta informação para ser processada que muita coisa não dá para ser escrita. Mas volto ao episódio de Berlim para agradecer também à minha cunhada Cleuza. Depois que o segurança olhou o que eu tinha nas sacolas – ela que tirou uma a uma as peças – com muita educação ele nos pediu desculpas, tentou explicar que poderia ser alguma etiqueta das novas roupas que não tinha sido desmagnetizada. Aí, com ligeiro tremor nos lábios e com a dureza que lhe é peculiar, ela disse em quatro idiomas – cada palavra em um – “tudo bem, nós é que perdoamos você”. Dá para imaginar essas palavras ditas em inglês, francês, português e espanhol? Então vejamos: Ok, nous perdoamos usted.  Agora a gente ri e nem sei como pude prestar atenção nisso. Obrigada Cleuza, é nessa hora que a gente tem a certeza de que somos família e que esses 40 anos de convivência serviram para estreitar esses laços.

Em relação ao meu irmão não sei por onde começar. Sempre foi meu ídolo, aquela coisa de irmã mais nova mesmo. A vida coloca cada um em seu caminho, mas no caso, ele foi dotado de um espelho retrovisor e assim, nunca me perdeu de vista. Sua companhia é sempre muito agradável. Extremamente sensato, observador, estudioso, atento e cuidadoso, representou para o grupo todo o ponto de apoio, a segurança que a gente busca quando está em um país estranho.  Um guia turístico perfeito. Pesquisou antes, visitou pelo google heart todos os lugares que fomos e parecia conhecer tudo como a palma de sua mão. Às vezes que não acertava é porque perdia o norte, então ganhou uma bússola do Marcelo. Essa viagem para mim foi presente dele. Não gastei um tostão com passagem, hotel, alimentação, transporte.  O dinheiro que gastei foi para comprar bugigangas – que ele ajudou a carregar – com a mesma complacência que se tem com crianças. Obrigada Dedé! Nossa viagem não termina aqui. Agora vamos para Paris realizar meu sonho adolescente.

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