sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Vida e consciência

Woman with a Burden, de Ron Cheek

Albert Camus usa o mito de Sísifo para explicar a condição humana e promover o que ficou conhecido como “A revolta metafísica”. Explicava Camus que a vida dos homens era tal como o mito de Sísifo: seguir uma rotina diária, sem sentido próprio, determinada por instâncias como a religião e o sistema capitalista de produção. No mundo administrado, levantamos de manhã, trabalhamos, comemos, reproduzimos etc., e tudo isso não faz o menor sentido, já que se refere a modos de pensar que se impõem ao indivíduo sem que ele participe da estruturação desse modo de vida, como se não tivéssemos escolhas.
Entretanto, a culpa de Sísifo foi pensar por conta própria. E sua condenação foi aquela que mais sofrimento pode trazer a um homem que pensa: a realização de um trabalho sem sentido. Por toda a eternidade deveria Sísifo empurrar uma grande pedra redonda até o cume de uma montanha. Ao completar seu trabalho, ele veria a pedra simplesmente rolar ladeira abaixo por força da gravidade. E então ele deveria trazê-la de volta…
O belo, na história de Sísifo, é que ele continua fazendo seu trabalho, e este é o seu objetivo. Ao subir a ladeira, ele se confunde com a própria pedra, comunga com ela o destino de ascender, de não estancar em lugar algum. Ao rolar a pedra, o herói executa sua arte. A descida não lhe interessa, não depende dele, é natural e inexorável.
Sísifo poderia livrar-se do castigo, mas para isso teria que tornar-se inconsciente, ou talvez morrer. Mas ele ama esses dois companheiros: a vida e a consciência. Então continua, mesmo sem considerar a possibilidade de deixar lá em cima a pedra.

A maldição de Sísifo é o que o transformou no verdadeiro herói, como todos somos.

Música: Jota Quest:
 " E eu vou!
Esquecer de tudo
As dores do mundo
Não quero saber
Quem fui
Mas sim quem sou
E eu vou!
Esquecer de tudo
As dores do mundo
Só quero saber do seu
Do nosso amor... "

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