Allegory Of Wisdom And Justice, de Hermann Kaulbach |
Justiça e generosidade são dois conceitos que se confundem e
se completam, mas só são compreendidos à luz da virtude. Justiça pressupõe um
estado de equilíbrio, de imparcialidade, de neutralidade, de igualdade,
enquanto a generosidade denuncia o desequilíbrio e pressupõe uma condição de
partilha. Para Aristóteles, a justiça denota ao mesmo tempo legalidade e
igualdade, e traz embutida o objetivo de manter a ordem social, preservando o
direito de todos em sua forma legal. Assim, é justo quem cumpre a lei e também
é justo aquele que dá ao outro aquilo que lhe é devido. É nesta última forma
que a justiça se confunde com a generosidade e que se faz necessário entender o
que é virtude. Para ser justo é necessário ser generoso, e para ser generoso é
preciso ser justo.
Virtude não é uma característica da pessoa, mas uma
inclinação que ela tem e que a orienta para a prática do bem. Muitos foram os
filósofos a tratar de seu conceito, mas citei Aristóteles e fico com ele -
embora pudesse me apoiar em qualquer outro que veio depois e ampliou esse
conceito - que divide a virtude em intelectual e moral: intelectual é o
resultado gerado da aprendizagem, da educação, da inteligência; virtude moral é
o resultado do hábito, que nos torna capazes de praticar atos justos.
Intelectual ou moral, ninguém nasce virtuoso. As virtudes são adquiridas pela
repetição dos atos, que geram o costume e que, por sua vez, geram os atos.
Estes não podem se desviar, nem por defeito, nem por excesso, pois a virtude
está no equilíbrio, na justa medida.
A justiça também lida com conteúdos internos e quando se
busca a igualdade está também lidando com a generosidade, mas tem a seu favor
um conjunto de leis para aplicar, o que faz parecer mais fácil de ser
praticada. A generosidade é mais fluida, passa pela moral (que sofre influência
do tempo e do espaço) e também precisa ser equilibrada. Generosidade de menos é
avareza, em excesso é extravagância. Generosidade tem que ser como remédio,
aplicada na medida certa, porque a falta causa a morte e o excesso se transforma
em veneno.
A vida nos proporciona vários enganos e ninguém está livre
de embarcar em uma canoa furada ou errada, mas nem tudo é equivocado. A prática
da virtude, da justiça, da generosidade, acaba atuando como escudo e nos
protegendo de enganos. Todos somos afetados pelo que está à nossa volta e
afetamos o outro com aquilo que somos. São essas certezas interiores que me
guiaram a vida toda. Bato as portas da velhice sem os valores imprimidos pelo
mundo, mas amparada pela dignidade e orgulho de ter vivido uma vida reta. O que
não consegui, pelo menos tentei. Então, grosseiramente, posso concluir que a
virtude completa, de modo excelente, a natureza de um ser.
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