segunda-feira, 23 de junho de 2014

A hora de pecar

Aphrodite and Eros, Henri Camille Danger

A noite foi longa e fria.  Maria acorda com o corpo dolorido,  a  cabeça  como  se  estivesse  no vácuo,  o coração apertado.  Espreguiça com vontade e faz alongamento ainda na cama, para enfrentar mais um  dia sem graça, isolada em sua enorme sala, tendo por companhia apenas uma tela de computador. Tem lá suas vantagens: pode ler, ouvir música e escrever. Mas está dividida.Deixa para trás outros aspectos da vida que reclamam  sua  atenção.  Hoje,  especialmente hoje,  ela sabe  que precisa separar um tempo para si, para resolver essa questão interna da divisão. Lembra-se de quando tinha seus filhos pequenos e precisava deixá-los para ir à luta pela sobrevivência. Hora de retribuir o que a vida lhe presenteou.

Em meio à tempestade de areia no deserto, um pequeno oásis. Não saber o que acontece por dentro é andar na escuridão e passos indecisos nunca são capazes de levar ao ponto certo. Ainda assim, Maria se sente estranhamente feliz, com todo aperto no peito, com a voz saindo mais trêmula do que nunca, engasgando quando verdades profundas vem à tona. Encontra, depois de muito tempo, um João, enigmaticamente de olhar tristonho e sorriso risonho, que um dia esteve povoando os sonhos e fantasias de um mundo virtual. João é como a águia que hipnotiza a presa. João é como o rouxinol, seus gorjeios enchem o coração de Maria. João é como o santo, acende a fogueira do coração de Maria. Quer viver. Não quer trazer João para a realidade, não quer distribuí-lo na igualdade de seus dias. Nem tempo, nem espaço, nem qualquer preconceito, limitariam a doce Maria cansada de solidão. 

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