Benedicto Fernandes *16/06/1940 + 05/07/2020 |
29 de dezembro de 2010. Durante uma
visita ao cemitério para levar flores à minha idolatrada tia Alice sou
surpreendida com uma ligação do Tio Dicto. Estava mal, havia sucumbido à dor de
ter perdido seu companheiro, que morreu dois anos antes. Foram 36 anos de amor
e companheirismo e como ele dizia: ”Amei e fui amado. Eu vivi”.
No dia seguinte eu partia para uma
das minhas viagens mais difíceis de minha vida. Fui para fazê-lo se despedir de
toda sua vida, todas suas lembranças, tudo que lhe havia sido tão caro
conquistar. Muitas dessas lembranças também eram minhas. Todas as viagens
divertidas ao Rio de Janeiro foram partilhadas com meus tios Dicto e Alexandre.
E naquele dois últimos anos estive no Rio por quatro vezes. Fui apresentá-lo ao
gerente do banco, ao jornaleiro, ao farmacêutico, ao garçom do Restaurante
Amarelinho e ensiná-lo a fazer supermercado, comprar coisas de rápido preparo.
Era a primeira vez que ele iria morar sozinho. A última viagem foi de
despedida. Sabíamos que ele nunca mais voltaria lá. Escrevi uma história https://maishistoriasdemaria.blogspot.com/2011/01/verdadeira-beleza-e-triste.html
.
Em outra, que está em meu livro, eu o chamei
de meu bendito tio Teófilo, porque Deus era um dos nossos assuntos preferidos.
Somos uma família de buscadores da Luz.
Postei abaixo duas músicas O Sol e Sutilmente, músicas que ouvíamos juntos. Tem muitas outras, mas
essas pularam agora em minha mente. Ouçam. É um pouco da nossa história.
Domingo, depois de passar mal e ser
socorrido, meu querido tio partiu. Na verdade ele já estava morto por dentro e
sempre pedia a misericórdia de Deus para não lhe prolongar tanto a vida, tão
diferente da que ele gostava. Viveu recluso em seu quarto, saindo poucas vezes,
cuidava do meu jardim, ouvia música, assistia televisão, mas não podia ler, nem
escrever. Sim, ele também foi um escritor. Inédito. Guardo seus manuscritos,
autorizados para publicação somente depois que ele morresse. Foram nove anos e
meio em que brigamos por suas teimosias, rimos e choramos. Fomos felizes dentro
do possível.
No final, com Parkinson, Alzheimer,
um aneurisma da aorta infra-renal com 12cm e que não chegou a se romper, Tio
Dicto me surpreende com uma parada cardíaca. A exemplo do meu pai, ele também
se foi com serenidade. A última coisa que me disse antes de entrar na
ambulância foi “estou pronto”, e na ambulância disse á minha filha que o
acompanhava: “agora sim, estou no caminho certo”. Meu amado buscador da Luz se foi. Mais uma
estrela brilha hoje neste céu de lua cheia.
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