quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A Dama de Ferro




Do Hôtel des Invalides à Tour Eiffel tudo foi encantador. Ruas estreitas, aquele casario antigo que de certa forma nos remete a outros tempos, mesmo em meio à modernidades, sons que ecoavam em meu silêncio/encantamento.  É importante agora perceber que o tempo e a distância intensificam os sentimentos, as sensações, as percepções. Fechar os olhos e voltar no tempo revirando o baú das lembranças é refazer passo a passo a viagem. Na hora a gente não consegue processar tudo.
Era abril, o céu estava lindo, havia sol e a temperatura gostosa. Andar não era nenhum sacrifício. Não transpirava, não sentia dor, não perdia o ar. Até que  tcham tcham tcham tcham!! Eis que ela aparece, linda, enorme, esguia, imponente, típica!


O que eu não imaginava era seus arredores, os franceses fazendo piquenique, estirados de roupa na grama aproveitando o sol e não sei porque sempre que via essa cena deles maravilhados com o sol eu tinha vontade de chorar. Não sei como é viver três meses com frio intenso, neve e uma paisagem sem cor, mas só de imaginar, posso entender a alegria do europeu com a primavera, com o sol.
O entorno da torre é cheio de vida, cores, sons e cheiros. Está cheio de barraquinhas e então a gente sente cheiro. Paris não me deixou muitas lembranças olfativas. O cheiro que veio impregnado em mim foi de Budapeste e eu nem sei se escrevi sobre isso.  Mas toda vez que me lembro da Hungria eu sinto o cheiro dela. Não sei explicar além disso. Mas alguns lugares em Paris tinham cheiro. A torre era um deles.
Mas o que posso dizer de uma estrutura metálica gigantesca? Que ela é grande, tem 324 metros de altura? Que é o monumento pago mais visitado do mundo? Que movimenta milhões de euros por ano? Que de cima você pode ter Paris a seus pés? Tudo isso a gente pode ficar sabendo pela internet, e acredito que ninguém vai lá por esses motivos. Pela simbologia sim.  É pitoresca. É a cara de Paris. É cheia de turista, e a fila para subir é tão grande que desencoraja a vontade de “ter Paris a meus pés”. Mas como bem colocou Walter Benjamin a respeito da arte – e que vale para os símbolos – há uma aura que confere o diferencial. Ouvir um CD é diferente de assistir um show, se é que consegui explicar. Ver uma foto, ou um vídeo, não é a mesma coisa que estar no local, ouvir o ambiente e sentir o cheiro. Ver a réplica de uma pintura, não lhe transmite a aura que a obra original lhe confere. Isso não é ciência. É sensibilidade.


Eu estava ali para concretizar sonhos, para me sentir personagem de filme, como tantos que  assistia e naquele cenário que tanto sonhei. Sentia, naquele momento, o peso da solidão, mas era um sentimento confuso quando eu comparava à liberdade, inclusive, de deixar meu olhos inquietos. Meus companheiros de viagem estavam juntinhos e isso deve ter acionado algum botão esquecido, mas foi rápido.  Fico pensando porque meu irmão quis tanto me levar nessa viagem. Não era apenas para pagar, senão poderia ter me dado a passagem para eu ir com outra turma. Ele quis, literalmente, ME levar. Estar junto. Ver minha reação. Mas eu estava contida, estava de luto, e muito do que vi, senti, vivi, só agora estou colocando para fora, haja vista a demora em escrever sobre Paris.  E escrevo lentamente. Muitas vezes choro.
Vou abrir parênteses aqui. Vi todos os filmes da viagem, mas tinha receio de ver os de Paris. Os vídeos são musicados. Meu irmão pesquisa as músicas dos locais, vai fundo nelas. E quando estava pesquisando a música francesa porque já havíamos programado a viagem, eu tive o câncer, o que atrasou em 3 anos a viagem. Então as músicas evocam também essa fase e eu despenco mesmo vendo os vídeos.

Ficamos um tempo razoável sentados por ali e em seguida fomos ver a torre de outro ângulo, do Palais de Chaillot.  Nesse trajetio, muito de longe, pude avistar, pela primeira vez a Sacre Coeur. Alguns monumentos de Paris foram construídos com objetivos de integrar a Exposição Universal, como a Ponte Alexandre III, a Torre Eiffel, o Palácio de Chaillot, na colina que tem o mesmo nome. Ali era um convento que foi destruído pela revolução e foi alvo de vários projetos. O Palácio é formado por dois pavilhões e duas alas curvilíneas, alguma coisa que me lembrou a entrada para a Marienplatz em Munique. Entre as duas alas está o Jardim do Trocadero, de onde se tem uma bela visão da torre e dos Campos de Marte (a área em volta) e como sempre, um espaço de muitas esculturas, fontes, cascatas.
Dalí saímos para l' Arc de Triomphe e Champs Elysée.


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