segunda-feira, 6 de julho de 2015

Reencontro com Maria


Imagem da internet

Retiro Espiritual em Lourdes e Nevers


Maria já está há dois dias na França, conhecendo as entranhas parisienses, e com a estranha sensação de que não deveria estar ali. Sua cabeça está fervilhando. Os sonhos que povoaram sua adolescência se realizavam, mas em contexto que ela jamais poderia imaginar. A vida de criança é lago azul e sereno, mas a de adulto é de fortes correntezas.  Não lhe é fácil ajustar o sonho à realidade, cujas essências são antagônicas. Havia muita expectativa para Paris e viajar a Lourdes e, em seguida, para Nevers foi sua salvação. Por ser um tipo de turismo religioso Maria pode ficar em silêncio, buscando em suas profundezas o equilíbrio que tanto precisava. Lourdes foi o encontro com suas dores, sufocadas nos últimos tempos, e rezar lhe fez muito bem. Maria reza muito, é rezadeira mesmo. Não toma um copo com água sem se lembrar da Poderosa Força do Universo e lhe pedir que purifique seu Ser.  Mas em Lourdes precisou se agarrar às repetições da Ave Maria e Pai Nosso para não se deixar arrastar pela dor.  Lembrei-me dos retiros espirituais que fazíamos no Ginásio Coração de Jesus. Eu não imaginava que ela tinha tanta dor guardada até que comecei a escrever este post, adiado por semanas. 

Em Nevers já havia apaziguado e ajustado seus sentimentos. Não sei se ver o corpo incorrupto fazia alguma diferença naquele momento, pois o que Maria buscava era mesmo se encontrar com outro tipo de fé, a mesma que havia deixado no tempo, junto com os sonhos de viver a França. Nos dois dias as lágrimas foram fartas. A missa em francês, completamente compreendida e sentida. Aproveitou para rezar e pedir por seus amigos e familiares enfermos, pela união da família, pela proteção divina de cada um que lhe pulava à memória. Em verdade, a religião também ajuda o homem a despertar para virtudes latentes. Lapidar-se e buscar a conduta adequada e intensamente prática. Foi mais fácil refazer os passos de Santa Bernadete dentro do convento. Acho que esse foi o caminho dos santos. Superar os obstáculos da caminhada. Encontrar portas fechadas faz parte de nosso cotidiano, abri-las, no entanto, é nosso dever. E se, tendo a chave, não a conseguimos abrir sozinhos, significa que precisamos de ajuda. Ajudar uns aos outros, não no sentido da caridade, é um dos pilares da fraternidade. Maria e eu estávamos novamente juntas e ficaríamos assim até o final da viagem. Eu precisava dela, meu alter ego, e ela de mim (seu contato com a realidade).


Freedom, de Jennie Smallenbroek
Para uma viagem animada, saudável, rica, também é necessário ter boa dose de humor, principalmente no que diz respeito a nós mesmos. Encarar as dificuldades com a certeza de que tudo passa, não apenas é a força que está por trás de toda atitude, mas é também a preparação para o passo seguinte: entender a mudança. Nada permanece o mesmo depois que se compreende que o que traz felicidade é a caminhada, não o destino. Assim, todas as decepções, dúvidas, desânimo fazem parte da história que escrevemos. A vida é um mistério e ganhamos mais tempo vivendo-a, que tentando entendê-la.  Esta é talvez a primeira lição que devemos aprender: o paradoxo com que teremos que lidar durante a caminhada. O intervalo foi inspirador para a viagem, como um oásis no deserto. O principal é manter o foco e não perder de vista nossa contribuição neste universo. Olhar para os lados só acrescenta alguma coisa quando focamos nos talentos das pessoas que nos cercam. Quando se aprende a olhar por ângulos virtuosos tem-se a humildade necessária para aprender com os outros.  Maria e eu tentávamos aprender com a história dos santos.

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