quinta-feira, 9 de julho de 2015

Enfim, Paris na superfície!

Louis Theodore Eugene Gluck (1820-1898), In The Luxermbourg Gardens, Paris
 - Ei! Acorda, acorda! Vamos sair para passear, hoje é nosso primeiro dia na superfície de Paris, diz Maria, eufórica, me sacudindo.
- Oui...je suis a Paris!... penso eu enquanto me visto e os meninos descem para fumar. É um domingo ensolarado, temperatura por volta dos 16º C e pela primeira vez tenho dúvida do que vestir, acabei em uma estranha combinação de azul vermelho e bege. Não estava de todo mal, mas não foi meu figurino mais bonito. Tanta coisa borbulhava dentro de mim, que é difícil explicar em palavras. Por trás do sonho, existem histórias, informações e impressões de outras pessoas. Paris e Milão carregam a tradição e imagem de serem centros de moda, coisa que não faz diferença para mim, mas faria, se por acaso eu destoasse a ponto de chamar a atenção. Algo como os americanos que chegam com camisas toda estampada e escandalosas no Rio de Janeiro. Ufa! Foi tranquilo em relação a isso.
Quando comecei a estudar francês, ainda pré-adolescente, fiquei encantada com a língua. Achava-a de uma sonoridade gostosa, e para ler , mesmo sem conhecer todas as palavras, eu tinha a sensação de entender tudo. Não era bem assim. Eram livros didáticos, próprios para iniciantes, então era fácil mesmo. Somente mais tarde, na universidade voltei a ter contato com a língua e, para minha surpresa, eu ainda me lembrava de muita coisa. Tive a sorte de ganhar uma bolsa de estudo na Aliança Francesa, fiz o teste de nível e já entrei no terceiro ano. Fiz mais dois e a bolsa não incluía o curso avançado. Aprendi muita gramática e isso me ajudou pouco para o que queria na viagem. Explico: Eu queria soltar a língua, falar, conversar, mas ficar estruturando frases na cabeça só fazia atrapalhar. Tinha testado isso nos trens na viagem para Lourdes e Nevers. 


Estávamos no Quartier Latin então começamos a explorar Paris por ali mesmo. Andando por ruas aleatórias vi cartaz anunciando show de Gilberto Gil e Caetano Veloso no Palácio do Congresso de Paris, patrocinados pelo Carrefour e Fnac. Achei legal. Entramos no Jardim de Luxemburgo pela Port-Royal e o atravessamos inteirinho. Aí eu me senti como no clip de Mickey 3D – Paris t’es belle. A gente está ali, sente como é viver em Paris, mas Paris não nos pertence e nem temos sensação de pertencimento. Somos meros observadores. Domingo ensolarado de primavera e o parisiense estava fazendo piquenique. Os gramados cheios, crianças brincando e o astro-rei mostrando sua importância naquela parte da terra. Alguma coisa – respeitada a intensidade dos raios – como se estatelar ao sol em uma manhã de domingo em Ipanema. Ainda fazia frio, mas as roupas já eram mais leves. Nós mesmos já não usávamos o sobretudo. Falar da beleza e da imensidão do Jardim me parece desnecessário. A internet o mostra de todos os ângulos e formas.

Muita escultura, algumas tendendo ao naturalismo, outras mostrando linhas de grande delicadeza e graça com  caráter ornamental, impressionantes levezas esculpidas em mármore, fisionomias capturadas por artistas que o tempo fez anônimos, não que sejam anônimos, muitas obras estão assinadas, mas nós, míseros mortais, pouco sabemos deles. O Jardim de Luxemburgo é um museu aberto, mas como turista, é impossível olhar cada peça em detalhe. As fontes são maravilhosas. Foi divertido procurar uma escultura em meio a tantas obras espalhadas no imenso jardim. Queríamos ver a réplica da estátua da liberdade. Sabemos que Bartholdi fez várias réplicas da Estátua da Liberdade, uma inclusive está no Brasil. Outra está nos Jardins de Luxemburgo e foi um presente do artista ao Museu de Luxemburgo. A estátua é feita em bronze e serviu como modelo para a construção da estátua de Nova Iorque. Ela segura uma tábua com a inscrição da data de inauguração de outra réplica que está também em Paris na Île de Cygnes. Não sei quanto tempo ficamos por ali, mas eu teria ficado o dia inteiro se fosse possível.


A variedade de flores também enchia os olhos. Minha cunhada arregalava os olhos encantada com as flores , Maria me cutucava para me mostrar a satisfação estampada em seu rosto, e eu aproveitava para fotografá-la em sua espontânea admiração. Ela ficava verdadeiramente envolvida e amei que Maria tenha percebido. A beleza das flores inspira e atrai qualquer pessoa com sensibilidade suficiente para se deixar envolver por ela. Achava que depois do espetáculo de Keukenhof nada mais chamaria nossa atenção. Poderia até ser meia-verdade para mim, mas para minha cunhada era diferente. Ela buscava o perfume além da forma e da cor. Como se fossem gentes. Vejo isso como uma espécie de talento, capaz de enxergar beleza em coisas simples. E vejo talento em Maria que se atreveu a transformar a realidade em ficção. Inserir-se em outra cabeça e ter o atrevimento de escrever sobre pensamentos e emoções. Maria pede licença, é sensível e respeitosa, mas seu mundo só existe porque a imaginação lhe permite.

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