Estou há algum tempo
a olhar minhas mãos.
São bonitas,
delicadas,
pequenas,
palmas finas sem calos
– típicas de quem
trabalha
em atividades que
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Hands, de Lance Richlin |
não as machucam –,
mas ao virá-las,
vejo as marcas do tempo.
Pequenas manchas
e rugosidades,
como folhas desidratadas
que caem no outono.
Mãos que inspiraram poemas
no frescor da primavera,
hoje contam histórias.
Marcas de uma vida
que nada tem de diferente
de tantas outras vidas.
Mãos que se reconhecem
no trabalho
Do campo à cidade,
da cozinha à redação,
do quarto à sala de visita.
Mãos que se reconhecem
No carinho
Da criança ao idoso.
Mãos que bordaram sonhos,
que modelaram doces fantasias
no mundo encantado
de fadas, princesas
e super-heróis.
Mãos que se aquietaram
para contemplar as cores
Mão que repousaram
suavemente
para a consciência voar
na imensidão do Universo,
embalada na espiral
do Bolero, de Ravel.
Mãos que se unem
em oração ao tempo.