Outono, de Maureen Hyde |
Passei a vida sem medo de enfrentar o desconhecido ou precisar evitar olhar para frente com medo de perder o que já conquistei, ou com medo de arriscar, de tentar alguma coisa nova, de recomeçar. Muitas vezes escrevi sobre o medo, mas sempre o abordei pelo lado filosófico – como limite para o crescimento – , ou da falta de ousadia, mas hoje, limitada pela saúde, minha perspectiva é outra. Parece que tenho que agradecer por ter um trabalho em que me sinto explorada em minhas faculdades intelectuais. Medo de reagir e perder o emprego. Um medo que se confunde com a prudência. Não é medo da mudança, mas de não ter mais condição de se adaptar ao novo. Lidei constantemente com mudanças de todo tipo, desde aquelas que parecem simples, orgânicas mesmo, como crescer, tornar-se adolescente, amadurecer e envelhecer, como aquelas que envolveram a profissão, qualidade de vida, adaptação ao ambiente de trabalho, realização pessoal. Todos nós desejaríamos o poder de desvendar o futuro, mas vivemos sem qualquer garantia do que poderá nos acontecer amanhã. Será que podemos garantir uma carreira de sucesso estudando muito? Sim e não. O inesperado faz surpresa. Tudo muda. O contato com a realidade traz, muitas vezes, dúvidas em relação aos objetivos que busquei para minha vida, e todas as decepções, dúvidas, desânimos, fazem parte da história que escrevo.
Já fui workaholic, mas isso antes de ter câncer. Hoje minha
estrutura física não me permite mais afundar 12/15 horas em trabalho como
muitas vezes fiz. Mas as pessoas não entendem isso e assim não consigo manter
um ritmo saudável, que permita, inclusive, fazer dieta para emagrecer os 17 quilos que ganhei
nos últimos três anos. Isso me chateia. Preciso trabalhar, claro, mas porque
não posso ser normal como todo mundo? Ter um horário para isso? E outros ainda me
culpam, dizem que eu me deixo ser explorada. É apenas uma meia verdade, dita
por quem pode escolher. Quem já sentiu a pressão de manter sozinha uma família
sabe bem do que estou falando. Quem passou por uma fase de desemprego, sem
saber de onde sairia o sustento, sabe bem do que estou falando. Quem nunca teve
com quem dividir despesas, sabe bem do que estou falando. Será que ainda terei
tempo de viver?