quinta-feira, 11 de julho de 2013

Isso é só uma reprise

Relendo coisas escritas encontrei este texto. Acho que vale a republicação... afinal, nada mudou.

Sexta-feira, Agosto 26, 2005

Quero voltar a vestir meu casaco marrom


Desde que o Brasil mergulhou nesse mar de lama, CPIs, denúncias, mentiras e desmentidos, assistir o noticiário passou a ser um exercício para os nervos. De um lado, fala-se em milhões para campanha política, mensalões, esquemas de corrupção, fraudes em licitações, bacanais na corte. Do outro, famílias carentes veem seus barracos incendiarem por causa dos "gatos", policiais (muitos tão carentes quanto as famílias que despejam) com escudos e bombas de gás cumprindo ordens ou extravasando seus instintos, crianças maltrapilhas e carentes, filas infindáveis nos postos de saúdes, aposentado morrendo na porta de pronto socorro sem ser atendido, enfim, extremos tão gritantes que confirmam nossa posição no mundo como um país subdesenvolvido.
Não é só o Brasil; o mundo inteiro sofre nas mãos dos governantes,  seres que se julgam superiores aos simples mortais, aos cidadãos comuns, mas que não passam de porcos, ladrões, mentirosos, assassinos. Parece ser esta a história da humanidade. Desde que o mundo é mundo e o ser humano dotado de consciência e inteligência existe essa guerra do mais forte dominando o mais fraco. A evolução significa apenas que o homem se tornou mais perigoso e equipado de tecnologia. Mata e rouba com sofisticação. Basta inverter a situação, um trabalhador passar à condição de autoridade que seu pensamento muda, ele, não apenas, passa a pensar como autoridade, mas dá vazão a anos de opressão. Ele, que foi pisoteado, entende que é necessário pisotear. Ele, que foi roubado em sua força de trabalho, passa a ter certeza que é necessário roubar a força de trabalho. Afinal, o povo precisa de alguém que o comande, e para comandar é preciso não se envolver com emoções e sentimentos. Certamente estou pensando assim, porque não sou diferente de todos os seres humanos. Defendo o lado que estou, embora acredite piamente que todo ser humano tem um momento em sua vida que faz as escolhas. Não ser bandida foi uma escolha feita ainda na minha adolescência - o que não me protege de erros e decepções -, mas,  internamente,  me faz ter convicções firmes.
Não sei quando voltarei a ter inspirações para escrever sobre meu tema preferido: o amor, a linguagem universal. A dor que sinto ao ver o meu país parado com os escândalos, de alguma forma, é um reflexo do amor que sinto por ele. Há um misto ainda de compreensão e covardia em meus pensamentos. Prevalece a vontade de fugir, pintar um quadro, modelar uma escultura com o barro, mas em tudo transpareceria minha apatia, minha desesperança e essa vontade de chorar que não passa nunca.

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