Relendo coisas escritas encontrei este texto. Acho que vale a republicação... afinal, nada mudou.
Sexta-feira, Agosto 26, 2005
Quero voltar a vestir meu casaco marrom
Desde que o Brasil mergulhou nesse mar de lama, CPIs, denúncias,
mentiras e desmentidos, assistir o noticiário passou a ser um exercício
para os nervos. De um lado, fala-se em milhões para campanha política,
mensalões, esquemas de corrupção, fraudes em licitações, bacanais na
corte. Do outro, famílias carentes veem seus barracos incendiarem por
causa dos "gatos", policiais (muitos tão carentes quanto as famílias que
despejam) com escudos e bombas de gás cumprindo ordens ou extravasando
seus instintos, crianças maltrapilhas e carentes, filas infindáveis nos
postos de saúdes, aposentado morrendo na porta de pronto socorro sem ser
atendido, enfim, extremos tão gritantes que confirmam nossa posição no
mundo como um país subdesenvolvido.
Não é só o Brasil; o mundo inteiro sofre nas mãos dos governantes, seres que se julgam superiores aos simples mortais, aos cidadãos
comuns, mas que não passam de porcos, ladrões, mentirosos, assassinos.
Parece ser esta a história da humanidade. Desde que o mundo é mundo e o
ser humano dotado de consciência e inteligência existe essa guerra do
mais forte dominando o mais fraco. A evolução significa apenas que o
homem se tornou mais perigoso e equipado de tecnologia. Mata e rouba com
sofisticação. Basta inverter a situação, um trabalhador passar à
condição de autoridade que seu pensamento muda, ele, não apenas, passa a pensar como
autoridade, mas dá vazão a anos de opressão. Ele, que foi pisoteado, entende que é necessário pisotear. Ele,
que foi roubado em sua força de trabalho, passa a ter certeza que é
necessário roubar a força de trabalho. Afinal, o povo precisa de alguém
que o comande, e para comandar é preciso não se envolver com emoções e
sentimentos. Certamente estou pensando assim, porque não sou diferente
de todos os seres humanos. Defendo o lado que estou, embora acredite
piamente que todo ser humano tem um momento em sua vida que faz as
escolhas. Não ser bandida foi uma escolha feita ainda na minha
adolescência - o que não me protege de erros e decepções -, mas,
internamente, me faz ter convicções firmes.
Não sei quando voltarei a ter inspirações para escrever sobre meu
tema preferido: o amor, a linguagem universal. A dor que sinto ao ver o
meu país parado com os escândalos, de alguma forma, é um reflexo do amor
que sinto por ele. Há um misto ainda de compreensão e covardia em meus
pensamentos. Prevalece a vontade de fugir, pintar um quadro, modelar
uma escultura com o barro, mas em tudo transpareceria minha apatia,
minha desesperança e essa vontade de chorar que não passa nunca.
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