Le Quai du Louvre, Luigi Loir (Séc.XVII) |
Da Catedral de Notre Dame saímos margeando o Rio Sena,
sentindo um pouco os ares parisienses com turistas e franceses, o perfume das
flores nas pequenas floriculturas, o ritmo dos moradores em seu dia de lazer.
Não dá para expressar tudo que se sente, se observa, mas escrever traz de volta
à memória as sensações, as reflexões. O déjà-vu não para no tempo presente.
Sensações do passado se tornam presentes.
Eu estava feliz, não apenas por realizar o sonho, mas pela oportunidade
de mergulhar em registros inconscientes e em muitos momentos tive que segurar
as lágrimas. Não me perguntem porquê. Não saberia explicar. Não era apenas o
que li e ouvi, mas uma vibração que cada um sente de um jeito.
Paris em minha cabeça está muito ligada a uma outra época, a
belle époque, quando as artes, a literatura, a moda, pautavam as tendências em
outros países. Era chic, mas era mais que isso. Sim, eu conseguia ter aquele
encontro com sensações nostálgicas, inspiradoras, mesmo sabendo que não me
encontraria com Hemingway, Proust, Picasso ou Sartre. Mas eu estava dentro do
tempo, como no filme Meia-noite em Paris (que eu gostaria de ter sido a
roteirista). O cenário antigo, cheio de história e rico em detalhes arquitetônicos
facilitava as incursões na imaginação. Maria (sempre juntinho de mim)
procurava personagens nos olhares, nos anônimos que passavam. Paris se
identifica comigo porque, como eu, vive de suas histórias. Por isso inspira e
encanta. E fomos passando Conciergerie, Pont des Arts (onde tem os cadeados),
floriculturas, Pont Neuf.
Sentamo-nos para descansar e eu me sentia em casa vivendo
dentro do cenário dos artistas plásticos de séculos passados. Tudo era muito
familiar. Entramos no Louvre pelos fundos, observamos a enorme e cansativa fila
de entrada. Impossível num domingo, mas essa visita ao Louvre já bastava,
porque há outro museu por fora que não dá para ver em um dia.
No Jardim de Tuillerie eu estava em total ebulição por
dentro. O Jardim conserva sua tradição e
as cenas de hoje são semelhantes às das telas. Tinha as referências das telas e
de como era o jardim em outros tempos, quando ainda existia um palácio lá (mais
tarde fiquei sabendo que Marie Antoinette ficou nesse palácio que foi demolido,
antes de ir para a Conciergerie). Umas fotinhas no Arc du Carrousel (monumento em homenagens às
vitorias de Napoleão que lembra um pouco o Arco do Triunfo e o Portão de Brandemburgo), passamos batido pelo
Jardin du Carrousel (conhecemos em outro
dia, quando fomos ao Museu D’Orsay), paramos para um café e curtir o jardim,
depois nos encaminhamos para a Place Concorde para pegar o Metrô. Nesse dia
foram muitos quilômetros a pé, mas nem percebi. Nenhuma dor e muito
encantamento. Será que um anestesia o outro? Pode ser.
Cabe aqui um registro de hoje. Nós, e em especial minha
cunhada, nos encantávamos com as flores, as árvores floridas e elas realmente faziam
a diferença no cenário: as flores dos jardins por não serem as nossas
tradicionais, normalmente grande variedade de tulipas que não se adaptam ao
nosso clima tropical, e árvores carregadas de flores brancas ou rosas. Lindas
mesmo. Mas agora, passo a observar como
esta cidade e este país são encantadores. Percorremos avenidas inteiras com árvores
floridas, flamboyants em matizes que vão do amarelo ao vermelho, bougainvilles
do branco ao carmim, acácias que lembram as cores de nossa bandeira, barrigudas
(não sei o nome, então vai o apelido), quaresmeiras, ipês... e nem prestamos atenção
nelas. É preciso ver flores em uma paisagem cinzenta para aprender a valorizar
a beleza que temos aqui. Brasil, meu Brasil brasileiro, mulato, colorido,
alegre!