quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Um dia mergulhada em déjà-vu

Le Quai du Louvre, Luigi Loir  (Séc.XVII)



Da Catedral de Notre Dame saímos margeando o Rio Sena, sentindo um pouco os ares parisienses com turistas e franceses, o perfume das flores nas pequenas floriculturas, o ritmo dos moradores em seu dia de lazer. Não dá para expressar tudo que se sente, se observa, mas escrever traz de volta à memória as sensações, as reflexões. O déjà-vu não para no tempo presente. Sensações do passado se tornam presentes.  Eu estava feliz, não apenas por realizar o sonho, mas pela oportunidade de mergulhar em registros inconscientes e em muitos momentos tive que segurar as lágrimas. Não me perguntem porquê. Não saberia explicar. Não era apenas o que li e ouvi, mas uma vibração que cada um sente de um jeito.


Paris em minha cabeça está muito ligada a uma outra época, a belle époque, quando as artes, a literatura, a moda, pautavam as tendências em outros países. Era chic, mas era mais que isso. Sim, eu conseguia ter aquele encontro com sensações nostálgicas, inspiradoras, mesmo sabendo que não me encontraria com Hemingway, Proust, Picasso ou Sartre. Mas eu estava dentro do tempo, como no filme Meia-noite em Paris (que eu gostaria de ter sido a roteirista). O cenário antigo, cheio de história e rico em detalhes arquitetônicos facilitava as incursões na imaginação. Maria (sempre juntinho de mim) procurava personagens nos olhares, nos anônimos que passavam. Paris se identifica comigo porque, como eu, vive de suas histórias. Por isso inspira e encanta. E fomos passando Conciergerie, Pont des Arts (onde tem os cadeados), floriculturas, Pont Neuf. 


Sentamo-nos para descansar e eu me sentia em casa vivendo dentro do cenário dos artistas plásticos de séculos passados. Tudo era muito familiar. Entramos no Louvre pelos fundos, observamos a enorme e cansativa fila de entrada. Impossível num domingo, mas essa visita ao Louvre já bastava, porque há outro museu por fora que não dá para ver em um dia. 



No Jardim de Tuillerie eu estava em total ebulição por dentro.  O Jardim conserva sua tradição e as cenas de hoje são semelhantes às das telas. Tinha as referências das telas e de como era o jardim em outros tempos, quando ainda existia um palácio lá (mais tarde fiquei sabendo que Marie Antoinette ficou nesse palácio que foi demolido, antes de ir para a Conciergerie). Umas fotinhas no  Arc du Carrousel (monumento em homenagens às vitorias de Napoleão que lembra um pouco o Arco do Triunfo e o  Portão de Brandemburgo), passamos batido pelo Jardin du Carrousel  (conhecemos em outro dia, quando fomos ao Museu D’Orsay), paramos para um café e curtir o jardim, depois nos encaminhamos para a Place Concorde para pegar o Metrô. Nesse dia foram muitos quilômetros a pé, mas nem percebi. Nenhuma dor e muito encantamento. Será que um anestesia o outro? Pode ser.





Cabe aqui um registro de hoje. Nós, e em especial minha cunhada, nos encantávamos com as flores, as árvores floridas e elas realmente faziam a diferença no cenário: as flores dos jardins por não serem as nossas tradicionais, normalmente grande variedade de tulipas que não se adaptam ao nosso clima tropical, e árvores carregadas de flores brancas ou rosas. Lindas mesmo.  Mas agora, passo a observar como esta cidade e este país são encantadores. Percorremos avenidas inteiras com árvores floridas, flamboyants em matizes que vão do amarelo ao vermelho, bougainvilles do branco ao carmim, acácias que lembram as cores de nossa bandeira, barrigudas (não sei o nome, então vai o apelido), quaresmeiras, ipês... e nem prestamos atenção nelas. É preciso ver flores em uma paisagem cinzenta para aprender a valorizar a beleza que temos aqui. Brasil, meu Brasil brasileiro, mulato, colorido, alegre!