quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O Grande Caudal

Nayade, de Fantin-Latour
O corpo desidratado pedia água e Maria, mesmo sem consciência, sentia que mergulhava fundo. Os sons iam ficando para trás, apenas a sensação de liberdade que substituía o mal -estar anterior. A água lhe abraçava. As vezes sentia frio, outras ela lhe era morna, lhe acolhia. Era como se lhe pedisse para ficar. E Maria queria ficar. É como se mundos se mesclassem em unidade e as coisas do corpo e da alma ficassem mais claras, sem mistérios. É engraçado que naquelas águas acolhedoras, calmas, também se podia perceber a existência de correntezas. Não são correntezas fortes, mas são atraentes, têm luminosidades diferentes, como se a gente pudesse escolher ou simplesmente se deixar levar. Maria se entrega por alguns instantes e é como se abrissem portas internas e ela fosse envolvida por massagens e bálsamos que curavam suas feridas. Imagens e sons que prefere guardar em sua memória para não entregar às contradições humanas. É um estado de alma tão simples, que custa a acreditar que sempre esteve à sua disposição. Emergir é encontrar novos olhares.



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